Quando tinha uns 15 anos, adorava sair nas horas que o vento estava soprando forte. Ia caminhando a favor do vento, meio que carregada por ele, quase que voando, ou caminhava contra o vento, num esforço do mármore que deseja ser esculpido, e pouco a pouco sentia que aquilo que me sobrava, que não me era essencial, ia se separando de mim, e me deixava precisa, como um verso. Hoje me escondo. O que me separa daquela jovem? Daquele livro? De mim mesma?
Esta madrugada ventou muito. Eu estava acordada, olhos abertos na escuridão, escutando os uivos do vento e pressentindo os tumultos que ele provocava. O vento bateu em minha janela, assobiou, cantou me chamando, mas não atendi. Fiquei covardemente enrolada nos lençóis vermelhos de minha cama, sangue derramado inutilmente. De manhã, os sinais da batalha perdida: vasos derrubados, a cortina da sala pendurada do lado de fora da janela, papéis esparsos. No seu despeito de amante desprezado, o vento só partiu depois de mostrar um pouco de sua fúria. Como todo amante, a ternura que outrora nos uniu impediu que ele provocasse danos mais extensos. Mas me sinto ferida e frágil. Minha alma, tal como o mar, está cinzenta, turvada. Confusa, mal consigo funcionar. Trato de colocar a casa em ordem, lentamente. Os planos que tinha para esta manhã ficaram relegados para outra ocasião. Nada de Primavera dos Livros, recolho-me, encolho-me. Em meus olhos, uma ameaça de chuva. Sim, tenho vontade de chorar, mas não choro. Me nego à vida.
Mudando, como o vento, uma pequenina observação. Meu blog é feioso, eu sei, mas o da Julie Powell também é. Isso me anima.
1 comment:
Olá! Parece que andamos na mesma sintonia. Aqui tambem ventou e muito. Fez estragos, mas nao como amante e sim como vandalo qualquer.
Amiga, nao chore mesmo. Voce nao precisa chorar e sim sorrir. Sua obra florece em cada linha escrita neste blog e isso nao é motivo para chorar. Que a chuva seja substituida pelo sol de seus olhos. Buenos Aires te espera!!!
Beijos
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