Começo por uma auto-gozação: uma amiga, que me conhece, superficialmente, há muitos anos, me disse que sempre fui "construtora de sentido". Fiquei saboreando a frase, até descobrir o famoso sentido. Acho que ela quis dizer que eu sempre fui dada a invencionices. Pois quem conhece meu cotidiano parco deve estranhar tanto assunto como eu arranjo. Minha vida é pequena, já disse que vivo pequenininho, mas penso grande. As coisas que eu faço podem parecer desinteressantíssimas para os outros: Um cineminha, uma palestra, idas sem conta a livrarias (um verdadeiro vício), uma caminhada na praia. Viagens, todas as que posso. Muitas horas na frente de um computador, que, na maioria das vezes se escoam em partidas intermináveis de paciência. Pouca TV, leitura, sempre. Não saio muito, mas gosto de sair. Não convivo muito, mas gosto de conviver. Não falo muito, pois gosto de escutar. E, no entanto, estou sempre com algum pensamento pronto para compartilhar. Quando é que penso assim? Não sei. Talvez enquanto jogo paciência. E, então, começo a contar meu fim de semana, por exemplo, e me empolgo. Falo de um livro que li e meus olhos brilham (é o que me dizem), comento uma notícia de jornal com muita paixão. Dou aulas com entusiasmo, tenho coisas pessoais para dizer, ao invés de repetir opiniões, pura e simplesmente. Isso é o que me dizem. Pois eu até me surpreendo por fazer tanto esforço para pensar o que outros andam pensando também. E estou convencida de que, se me entusiasmo, é graças às sementes que os livros plantam em minha sensibilidade: quem pode ler Ana Karenina sem se entusiasmar com a força descritiva de Tolstói? Meu grupinho de leitura está terminando o romance. Mais umas duas aulas, no máximo três, e teremos terminado de ler o livro, que vai nos deixar saudades. Minha proposta de continuação foi um livro de história "As seis mulheres de Henrique VIII" da Antonia Fraser. Bem, dei muitas opções, e elas votaram neste livro. Vai ser minha primeira leitura "não-literária" com elas, e acho que vou gostar da experiência. Pois agora, ao invés de comentar o texto, vamos comentar o contexto. Mas, talvez seja a grande oportunidade de mostrar para elas (e para mim mesma) as diferenças de estratégia de "construção de sentido". Voltamos, então, ao título do post – bitches and diamonds are forever. Enquanto alguns privilegiam os fatos concretos (os diamantes) outros realçam os modos de ser (as pestes). Na união destas duas percepções é que se consegue ter uma idéia de como era uma época anterior à nossa (ou como será uma época vindoura, no caso, por exemplo, de um romance como 1984, que hoje nos parece quase que profético.) Tomara que a leitura deste novo livro seja tão proveitosa quanto as outras já foram.
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