Saturday, November 28, 2009

África e Brasil

Ontem fui à Travessa (quando é que não vou à Travessa, ou à Argumento? – fica meio estranha essa crase na frente de palavra feminina, mas subentendam "livraria") Bem, mas fui lá para escutar dois escritores a quem muito aprecio: Mia Couto e Agualusa. Antes de falar qualquer coisa, divago sobre os nomes portugueses: como são especiais! Morei em Portugal por alguns anos e lá aprendi, com meu marido, a gostar de hockey. Pois o goleiro do time chamava-se Ramalhete. Não é o máximo? Tenho um amigo cujo nome de família é Telhado. Há um jogador de futebol chamado Pato. Dentre os escritores os nomes também continuam esta tradição: Mesmo aqueles que nos parecem comuns devido ao costume, como Eça e Pessoa, não têm nada de comuns. Alguém conhece outro Eça? E algum Pessoa mais ironicamente multidão que o poeta? E o que dizer do Saramago? Do Luandino? E dos ditos Mia e Agualusa? Impressionante, não? 
Voltando a meu ponto de partida, fiquei encantada com o bate-papo dos dois. Desta vez a estrela era Agualusa, que lançava um livro: Barroco tropical. Eu não ia comprar, pois pensei que era um estudo sobre o barroco e não quero estudar mais nada, mas aí descobri que era um romance. Acabei comprando, claro. Gosto do Agualusa desde muito tempo, quando li O vendedor de passados. Depois tive uma crise de ciúmes, quando li um conto dele chamado "O inferno de Borges". É que na época  eu ainda não tinha publicado minha secretária, e ficava com medo de "gastarem" meu Borges. Ontem achei graca na veemência com que ele defendeu sua Osga, contra as comuns Lagartixas. Talvez por estar ao lado de um biólogo, ele fizesse tanta questão das singularidades de sua criatura. Agora vou ter que descobrir quais as diferenças entre osga e lagartixa, que ele afirma serem tão diferentes quanto ele e Mia Couto, embora todos os confundam. 
Mas, é claro, aquilo que eu queria ouvir, não me faltou: histórias. Mia conta histórias como ninguém, ele quase que fala em parábolas, e suas histórias são absolutamente encantadoras. Dou um exemplo: a história da cobra que invadiu uma repartição pública e que, além de matar algumas pessoas, ainda cantava o hino nacional durante a noite. Numa terra em que ninguém sabe a letra completa do hino, a cobra não errava nem sequer uma concordância… Pois acaba que um biólogo, chamado para resolver a situação, vê a cobra ser morta e atesta que era uma cobra comum e que não tinha nada de especial. E mostra o cadáver da cobra para os populares, com a pergunta: E então, é esta a cobra? Ao que a resposta do povo foi: Quase…
Há sempre um quase que liga nossa realidade a um mundo muito mais interessante que o nosso. Este quase, esta pitada que nos falta no real, é o que se pode encontrar nos livros do Mia. 
Deixo para falar do Brasil no próximo post, pois agora tenho que atender à porta.
Até breve.

1 comment:

Amauri said...

Voce "quase" me confundiu! Ahahah!
Só para voce saber que andei por aqui!
Beijos