Passei a noite assistindo a um programa sobre vampiros. Claro que hoje, por falta de uma boa noite de sono, me sinto sem energia, uma legítima vítima dos vampiros noturnos… O que mais me impressionou (tirando os detalhes nojentos de larvas e líquidos) foi o bispo inglês que hoje ainda acredita em vampiros. Lá estava ele, dando entrevistas, com suas suíças enormes, lembrando da vítima que havia salvo nos anos 60 ou 70, sei lá. Ela aparece, ainda novinha, ao lado do namorado, um cabeludo charmoso. Não mostram a moça hoje em dia, mas fiquei com a certeza de que a verdadeira vítima do vampiro não foi ela, e sim o namorado. O rapaz virou um velho mirrado, de cara chupada. A cabeleira continuou comprida, mas ficou ralinha e grisalha, começando no meio do cocoruto, fazendo seu rosto ainda mais comprido, mais desolado. Enquanto isso, o bispo ficou com cara de personagem de Dickens. Mais encorpado, demodé, bizarro. E a moça? Não apareceu. Mas eles garantem que ela foi salva. Ninguém mais apareceu para morder seu pescoço durante a noite, nem para deixá-la amanhecer exausta, com olheiras e corpo lânguido. Coitada. Será que ela foi mesmo salva ou apenas se transformou numa inglesa de meia idade, perdeu sua flexibilidade, os seus olhos escuros e líquidos, e agora ostenta um respeitável e horroroso chapéu, esconde o olhar atrás das grossas lentes dos óculos, e firma seu corpo sólido sobre sapatos abotinados, sensatos? Tenho pena dela e da saudade que deve sentir de suas noites de violentos combates contra o "mal"…
Depois fico pensando em Bram Stocker e em Mary Shelley. Suas criaturas tão poderosas ignoram seus criadores e vivem por aí, em filmes e historinhas bobocas, em documentários, em reinterpretações. Ninguém fala sobre os dois autores. Muita gente nem sabe que foram invenções. Já outros personagens criaram seus autores. Ulisses engendrou Homero, o Quixote presenteou Cervantes com uma provável biografia…
Enquanto isso, bocejo, me espreguiço, e lembro do conselho que a especialista em concursos públicos nos deu esta manhã: caminhe para oxigenar o cérebro. Será que vou? Nada! Vou ler os artigos que selecionei para me preparar para a defesa de meu projeto. Duby, ou Norberto Elias, ou Labriola, ou …
Fui!
1 comment:
Os vampiros voltaram a ser modinha.
O pior não é serem a modinha atual no cinema, mas os adolescentes e não tão adolescentes assim que acham que são vampiros de verdade e ainda o mais absurdo ainda, bembem sangue de outras pessoas, os assim chamados "doadores", que nada mais são do que indivíduos que permitem que seu senhor (a) vampiro(a) beba seu sangue, (não me pergunte como).
Até onde pode ir a loucura do ser humano, os personagens de Stoker e Mary Shelley, não só ganharam vida além de seus criadores, também tomam forma e substância real além da ficção em mentes desvirtuadas e desorientadas.
Terrível não?
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