Friday, October 30, 2009

Detesto imeio edificante!

Não sei quem acha que gosto de receber daqueles imeios que supostamente nos "inspiram" e nos dão motivação. Na verdade, aquelas imagens de pobres sorridentes e abnegados, ou aquelas frases mal escritas me deixam irritada. Será que meus amigos me conhecem tão pouco? Vivo dizendo que não gosto de livro de auto-ajuda, que não leio Paulo Coelho e que não gostei de Perdas e ganhos, ou seja lá qual é o nome daquele livro chato da Lia Luft. Gosto, com muita moderação, de imagens belas, ou de arte, ou de gente. Rio com piadas, mesmo aquelas requentadas, que já recebi muitas vezes. Acho graça em coisas mordazes, um pouco ácidas, pois, como sou de temperamento mansinho e doce, necessito de uma dose de crueldade para me equilibrar. E, graças a essa necessidade é que achei muita graça no filme do Tarantino. Incensado como uma obra prima, ele aguçou minha curiosidade e, como a ocasião faz – não o ladrão– mas a espectadora, outro dia passei na porta do cinema e entrei, e assisti e, sim, gostei. Na verdade, adorei o vilão do Tarantino, um alemão poliglota, educado, refinado. Aliás, todos os alemães eram assim, civilizados. Só o Hitler dele é que continuou estereotipado. Em compensação, os americanos, chefiados pelo Brad Pitt, eram o cúmulo da rusticidade, da barbaridade, em todos os sentidos, até no sentido original do termo: "barbarophonoi". Era assim que os gregos classificavam os Outros, gente que usava uma linguagem que doía em seus ouvidos habituados à musicalidade do seu idioma. E era assim que o Brad Pitt soava, com um sotaque atroz, mesmo para ouvidos americanos. Com eles não havia retórica, não havia sutileza. Eram iguais a robots, programados para uma ação, uma única ação que desempenhavam com eficiência mecânica. E, sintomaticamente, o que o chefe desses autômatos não podia suportar era a falta de rótulo nos outros. Daí a marca. Só assim ele saberia quem era o inimigo, e poderia continuar atacando. Gente, será que o Tarantino é mesmo assim tão esperto? Mas, e isso é certo, ele entende de narrativa, e de cinema. Conta bem suas histórias, mesmo aquelas que não me agradam. Viva o filme, que devia ter sido traduzido com o erro , pois o erro é fundamental. Sei lá, Bastardos Ingrórios, teria sido mais fiel que a pomposidade sem comentário de Bastardos Inglórios. Mas, de tudo, o que mais me fez sentir aquela fagulhinha de felicidade que a gente tem face a algumas coisas que se sobressaem e nos surpreendem, foi a tranquilidade dele em mudar a História em história, assinando o texto. Isso era uma coisa que Hollywood sempre fez, mas dentro de um limite para não acordar a descrença no espectador.  Mudavam tudo, de acordo com a interpretação de quem estava narrando, mas mantinham a moldura que sustentava a verossimilhança. Mas, no filme tarantinesco, Hitler morre no atentado, e com esse detalhe tudo se subverte. Temos que reavaliar a guerra, a bomba, todo o resto. Ou apenas rompemos nosso vínculo com a história, e vemos a narrativa como texto a ser analisado, a ser entendido com a inteligência e não com a crença. Valeu, cara! Me edifiquei muito mais com essa tarde no cinema do que lendo a comovente mensagem de que, enquanto eu me queixo de dor na perna, tem gente sem perna que está jogando futebol… Minha única queixa é quanto à qualidade do meu cérebro, mas, segundo esses imeios, eu devia me dar por satisfeita, pois tem muita gente sem cérebro convencida de que pode ajudar os outros a pensar…
 Vixe! Tou braba, hoje. Deve ser coisa do signo de Escorpião, que está nos regendo.

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