Saturday, December 01, 2007

Acabou-se o que era doce?

A novela terminou, mas sinto saudades de vir aqui de manhã cedinho, para escolher mais uma ilustração, colocar mais um capítulo...
Foi bom compartilhar com vocês minha história, é bom esse bate-papo, pois companhia, mesmo à distância, é muito bom.
Não esqueçam de procurar Histórias Possíveis, a nova revista eletrônica. Amanhã deve sair uma nova edição, fresquinha, com cheiro de tinta eletrônica, se é que isso existe. Nesta nova edição são contistas diferentes, e isso é que é o barato dessas revistas, a diversidade. Sou fã de "diferente", gosto que as coisas e as pessoas tenham caras e hábitos diferentes, cores e cheiros distintos, sabores e valores contrastantes. No entanto, um outro lado meu se compraz no hábito, na mesmice, no conforto do já conhecido... Mas acho que todos somos assim. Stella, uma de minhas estrelas-guia, me falou de um curso que ela fez, de filosofia, em que o professor García Rosa postulava vetores que tornavam tudo relativo. Então, meu impulso para o novo se relativiza frente ao meu desejo de familiaridade, e assim me equilibro. Quando sigo em frente, não posso esquecer o que ficou para trás ( e eu completo: nem o que está à direita e à esquerda, acima e abaixo) De repente, vejo que sou uma espécie de ouriço, apontando minhas farpas para todas as direções, e o mundo uma espécie de engrenagem onde todos nós, ouriços, vamos encaixando nossos espinhos e girando, e nos movimentando, num louco ballet... Como foi que vim parar aqui? Acho que fugindo de uma notícia horrível que li hoje: do pai que matou seu bebê de cinco dias apenas, arrancando-lhe a perna esquerda quando foi trocar sua fralda. Cronos não teria feito melhor... Fugi, mas fui alcançada, tive que desabafar aqui com vocês, e, mesmo levando o caso para a mitologia, para tornar o horror um pouco mais distante, o mal-estar que me invade ainda é enorme, inquietante. Somos feras, somos bárbaros, mas somos diferentes, e aqui me refugio. Sou diferente do bárbaro, embora carregue em mim um vetor que me relativiza a ele. Mas avanço, assustada, para o oposto, e dou graças pela diversidade.

8 comments:

Guido Cavalcante said...

Não achei os contos em Histórias Posíveis tão diversificados. Achei-os muito similares, como primos em prim eiro grau. Há alguma coisa que os une, talvez seja o mesmo caule da "realidade", seja lá o que esta palavra idiota queira dizer. Esta realidade flagrada de pequenas coisas, pessoas pequenas, causos pequenos mé é um tanto insuportavel... Um tanto nada, me é totalmente insuportavel. Pergunto se nunca mais vai aparecer um cara como Hemigway? Adoraria ler uma coisa como O Velho e o Mar novamente, ou como os contos de guerra do Ambrose Bierce. Ninguém vai escrever nunca mais como estes caras... Que pena! Fica só o cotidiano chatíssimo e esta linguagem que voces inventaram e que se disseminou em cadernos literários tipo aqueles contos de O Globo, tão semelhantes e absolutamente descartáveis.

Sobre o cotidiano, estou lendo o Xavier de Maistre e descubro de onde o chatíssimo Machado de Assis (exceto em Memórias Póstumas) sacou o lance de capítulos pequeninos :-)Vale a pena, pra quem gosta de cotidiano, ler o Voyage autour de ma chambre

Anonymous said...

Você não gostar dos contos de Histórias Possíveis, ora, tudo bem. Normal. Há quem goste, há quem desgoste, não só da revista como de cada um dos contos. Agora, dizer que "O Velho e o Mar" é grande coisa, meu Deus... Hemingway meteu um balaço de espingarda na cara não foi por acaso, não. Até ele sabia que tinha se tornado uma caricatura constrangedora do bom escritor que um dia fora. Uma linha de um conto dele escrito em dias beeem melhores, como "Assassinos", é muito melhor do que toda aquela panacada que é "O Velho e o Mar".

Nós, pelo menos, e segundo você mesmo, inventamos uma linguagem (isso é maravilhoso, não?)!

Agora, quanto ao seu cotidiano chatíssimo, sinto, mas não podemos fazer nada...

Abraços!

Guido Cavalcante said...

Tem razão, pobre Ernst. Descobriu que não mais sabia escrever e se matou. Deve estar dando razão ao seu comentário, lá do inferno dos suicidas embora por certo isso não o faça sentir-se melhor. Será que outros escritores tomariam tal decisão ao constatarem a banalidade de sua arte? Por certo, poucos julgariam conveniente tal uso para uma bala, por assim dizer :-)

Anonymous said...

Você pode fazer melhor do que isso, Guido. Pode fazer melhor do que o "pobre Ernest" em fim de carreira.

Por que não escreve um conto e remete para nós? Mostre-nos como fugir do cotidiano chatíssimo e dessa linguagem que inventamos e que disseminou etc. e tal.

Mostre-nos, literariamente, quais usos você julga convenientes para uma bala, por assim dizer.

Abraços!

Anonymous said...

Putz, por que estou perdendo tempo com isso? E em um blog alheio???? E discutindo Hemingway e usos e desusos de balaços?????

Guido, numa boa: pena que não curtiu os textos. Teremos edições semanais. Volte outras vezes. Pode acontecer de você topar com algo que lhe agrade. Ou não.

Fui!

Guido Cavalcante said...
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Guido Cavalcante said...
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Guido Cavalcante said...

Suponho que Lucia B. não encontrou nada demais usar o seu blog para... não é esta mesma a tarefa "civilizatória" dos blogs?: ligar pessoas que antes estavam desconectadas?

Tudo o que tenho produzido, textos ou imagens, agora está travado numa velharia que usei por sete anos.Tenho que extrair o disco duro de lá e passar tudo para este outro, onde escrevo. Mas se você, André, clicar no link do meu nome ao lado, vai cair na rede dos meus trabalhos. O emprego do inglês em alguns textos deve-se à minha correspondência com amigos em outras bandas. Por serem mal redigidos, por certo não assomo ao perigo de me classificar como esnobe:-)

E obrigado, Lucia B, por tanto abrigo protetor. Em troca, vou lhe contar mais uma de Borges:

Alguns amigos dele costumavam ler em voz alta para o velho cego. Entre estas pessoas conheci uma moça americana que também lia para ele. Éramnos colegas de profissão, ela pela a CBS News e eu por outra TV. Ela me contava que muitas vezes permanecia lendo no ap de calle Maipu por toda a manhã. Lia os textos que o Velho gostava de ouvir: Dafoe, Thackeray, Conrad...segundo lembro dela contar. Achei tal oportunidade verdadeiramente encantadora, não é mesmo?