Quando era pequena, fui muitas vezes censurada com esta pergunta: "por que é que você inventou de fazer isso?" Minha família, que parecia saída de um conto de Dickens, não achava muita graça nas minhas "invencionices", que sempre pareciam dar errado. Mas continuei inventando e descobri que, muitas vezes, as "invencionices" dão certo. Só que desta vez deu errado: quis mudar tudo na ceia de Natal, e estou aqui com cara de Scrooge que não se arrependeu a tempo. Não comi a ceia natalina pela qual esperei o ano todo, nada daquelas coisas tradicionais, e agora vou ter que esperar pelo ano que vem! Mas, acontece, que anunciam que o mundo vai acabar antes. Nevermore, quoth the raven! De Dickens para Poe, assim vou mal. Mas ainda posso piorar: estou lendo Coetzee, vocês já sabem, o escritor que amo odiar. Estava até fazendo as pazes com ele quando o danado começou a fazer troça de mim. Bem, achei que ele estava falando comigo e me zanguei. Mas não vale muito essa minha zanga, não no dia de hoje, pois a chuva influencia o meu humor. Passei da mais completa euforia, de dias azuis e de sol, para torrentes de chuva, se despejando incessante sobre meu paraíso. Desisti de minha "favela chique" e voltei para o Rio, atravessando engarrafamentos, acidentes, toda aquela rotina de sempre. De sempre não, dos últimos dias. Como na igreja, e nas profecias. Agora me pergunto: Por que é que eu invento? Mas respondo: graças aos céus que invento. Assim se suporta um pouco melhor o desespero e o desalento que essa época de festas semeia em nossos corações, por baixo de tanto brilho e de papéis laminados. Minha ceia não deu certo, confesso. Não suportei o tal pernil de vitela, que eu já de antemão sabia que não iria comer. Me desapontei com o bacalhau, diferente do de minha sogra, reconfortante como uma certeza. Me surpreendi com a falta de receptividade de minhas rabanadas, sempre disputadas e consideradas as melhores do mundo (pela família, é claro) que, desta vez, alegou uma ojeriza pelo doce que provoca males nunca dantes suspeitados. As castanhas sumiram na geladeira, as saladas ficaram esquecidas e a única que agradou serviu também de estopim para desavenças. Sobrou o salmão, o champagne geladinho, sem os quais a família teria passado fome. Acho que aprendi a lição: se houver Natal em 2012, não vou inventar moda. Ou talvez possa servir somente o salmão…
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