Sunday, February 14, 2010

Blocos e mais blocos

Um Carnaval a mais, sob o sol, e a vida dando voltas… Aqui onde estou, na minha torre, escuto a cantoria mais ou menos afinada, e o barulho das vozes de tantas pessoas que não se cansam de rodar pela cidade, em demonstrações genuínas ou não de alegria. Será que gosto de Carnaval? Certamente que gosto de alegria, e me emociona escutar o pessoal cantando. Certamente que não gosto de calor e de aperto. E detesto a "troca de fluidos corporais" a que somos obrigados quando entramos num bloco e passamos por pessoas suadas que, ao esbarrar em nós, deixam um pouco de si e levam um pouco de nós. Só de pensar já faço careta. Mas o que adoro mesmo é me fantasiar. Qualquer florzinha no cabelo, qualquer brilho de lantejoula me fascina. Ano que vem, já me prometi: vou sair de Colombina – uma fantasia delicada, antiguinha, romântica, como posso resistir? Por enquanto uso arquinhos de cabelo e viro Dona Cleópatra, ou prendo uma flor vermelha nos cabelos e fico parecendo Doña Carmen. Estimulada pelas amigas muito mais entendidas em Carnaval do que eu, vou ao Sassaricando, ao Boitatá, ao Boi Tolo, sou rodeada pelo Sapucapeto e pelo Azeitona, pelo Areias, pelos blocos sem nome que ficam aqui na Dias Ferreira, alimentados pelos vendedores de cerveja, e adereçados pelos camelôs de arquinhos e máscaras. A fantasia mais comum que tenho visto é a de "alegoria" – umas misturas malucas que unem vestes de Nero a perucas rastafaris, ou perneiras romanas a máscaras beijoqueiras, que ao invés de cobrirem os olhos, cobrem as bocas das pessoas. As mulheres são mais certinhas: muitas Noivas, muitas mesmo. Muitas Trepadeiras, algumas Havaianas, Enfermeiras, Policiais. As princesas também saem de seus castelos e cruzam as ruas ao lado de Avatares (suponho que sejam, já que estão todos pintados de azul). Melindrosas balançam suas franjas ao lado de Gatas e de Onças. Muita gente se fantasia de bicho: hoje, ao meu lado, uma Galinha esquecia os cacarejos e cantava entusiasmada o rancho das pastorinhas. Ontem foi o dia do desfile do Império Serrano, e lá estava eu fantasiada de escrava acorrentada, exibindo uma gaforinha que mais parecia uma Marge Simpson tropical. Meio metro de peruca e uma cangalha prateada. Pelo menos não era das mais quentes. Meu gás já acabou há muito tempo, mas as amigas não me deixam desistir. Haja produção! Vou seguindo os blocos, mas sempre pela sombra, sorrindo com o riso dos outros, cantando pedaços de sambas e marchas, arriscando um ou outro passo de samba, quando o espaço permite. Ainda me convidam para mais um baile, para mais um bloco, mas o que gosto mesmo é de chegar em casa e ver o livro que me espera sobre a cama. Vou tomar mais um banho e mergulhar na leitura.

1 comment:

Ana Cristina Melo said...

Você desfilou na Império, Lucia? E não conta nada para os amigos. :)

Acho lindo o trabalho das escolas, os desfiles, mas só de imaginar o calor, já tremo.

Carnaval para mim é com muito descanso e livros.

Bjs