Descobriram que o rei Tut morreu de malária. E que tinha lábio leporino. Que seus pais eram irmãos. Que estava com a perna quebrada e que devido a uma doença os ossos de seu pé esquerdo estavam sendo destruídos, o que o obrigava a andar de bengala.
Descobriram que o nariz de Dona Cleópatra não teve nada a ver com a passagem da República
Romana a Império Romano. E que o amor de Cleópatra por Marco Antônio foi uma lenda, na verdade eles brigavam muito e Cleópatra, que já não aguentava mais o amante presunçoso, deixou-o no meio da batalha naval e veio brincar o carnaval no Rio.
O Egito, conforme estou lendo agora num livro simplesmente a-pai-xo-nan-te, As núpcias de Cadmo e Harmonia, foi o local de nascimento de quase todas as versões mitológicas. Acompanhando os raciocínios de Roberto Calasso a gente vai tendo arrepios de prazer, percebendo as verdades por baixo das fantasias. E, se algumas destróem nossos sonhos, como as descobertas sobre o Tutancâmon, essas descobertas nos fazem amadurecer e crescer. E nos dão o prazer do conhecimento, que é viciante.
Ontem fui assistir um filme que me deixou eletrizada do início ao fim: Educação. Pelamordedeus, não percam! Um filmaço. Uma história simples, real, na qual a fantasia desempenha um papel contrastante com a realidade (não é sempre assim?) e onde percebemos que nossos mitos, mesmo quando nos enganam e poderiam nos destruir, quando depurados pelo conhecimento são caminhos para a superação. Adorei o filme, os atores, me apaixonei, torci, e, embora desde o início soubesse que aquilo não ia dar certo, em momento nenhum deixei de curtir cada pedacinho da história. Todos os detalhes do filme me agradaram: do cenário ao vestuário, dos atores à trilha sonora, dos diálogos aos silêncios. As imagens falam por si mesmas, contam uma história ao lado da história. Por exemplo, o carro parado esperando que a mãe com as duas crianças atravessem a rua tem um significado na história, que vai sendo construída através dessas impressões visuais.
Ou então, pequenos advérbios "– Ainda gosto dos pre-rafaelitas", por exemplo, resumem toda uma história.
Há muito tempo não me entusiasmo tanto assim com um filme. Quero ir de novo, é como um livro que a gente tem prazer em reler, pois sabe que vai encontrar mais coisas que deixamos passar da primeira vez. E, o mais extraordinário, é que nos apaixonamos por todos os personagens, sem exceção, perdoamos seus erros, gostamos deles em suas imperfeições e desonestidades, compreendendo sua humanidade.
Não sei o nome de nenhum dos atores, exceto Emma Thompson, que faz um bico. E sei o nome do roteirista, Nick Hornby, um dos escritores mais interessantes da atualidade, que apesar de estar ganhando uma nota preta com seus livros e roteiros, continua professor de adolescentes e faz parte de uma banda de rock alternativa. Mas todos estão ótimos, e merecem ser destacados. Mas julguem por si mesmos.
7 comments:
Lindérrima. Adorei como você se divertiu nesse carnaval. Bjs.
Lúcia querida: Carnaval não pomho o pé fora de casa. Entrar num bloco nem pensar, estragaria qualquer animação. Obrigado pela indicação do filme. Irei ve lo. Beijos Marcio
Alfred Molina é um dos atores - ele foi o prefeito da cidadezinha em 'Chocolate', estrelado por Juliette Binoche
Feliz aniversário, amiga. Que você tenha se divertido bastante no Carnaval, para que o próximo ano seja cheio de luz. Ah, divirta-se muito hoje também!
Bjs
Estive pensando no diagnóstico tardio do Rei Tut. A medicina tarda é sempre falha. E a coincidência foi tão agradável.
Agradável mesmo foram as dicas, os faroletes acesos nos cantos escuros, deste meu cinema particular.
Assistirei o filme e criei coragem para pegar o livro e ler. Este estava parado, olhando para mim, e eu nem dava bola. Beijos.
Linda Foto! Márcio Galli
Lucia, li sua crítica sobre O Manto, de Marcia Tiburi. Achei bacana. Um abraço, Aurora da Graça (augraca@uol.com.br).
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