Thursday, January 14, 2010

D. Zilda Arns

Nesta semana li uma crônica da Marta Medeiros, falando sobre pessoas que, quando se vão, deixam atrás de si um mundo melhor. Dona Zilda, sem dúvida, foi uma dessas pessoas. A vida dela afetou milhares de outras: crianças sobreviveram graças a ela, outros aprenderam a ser solidários graças a ela, o mundo ficou um pouquinho melhor graças a ela. 
Temos escalas diferentes, Dona Zilda, não fosse sua morte, era escala de prêmio Nobel. Vidas preciosas, que, mesmo sem os holofotes das câmeras de TV e dos flashes dos papparazzi (será que tem tantas consoantes assim?), são as mais iluminadas.  Outras pessoas, em escalas mais humildes, também deixam um mundo melhor para seus sobreviventes: incluo aí os professores. Tão desvalorizados em nossa sociedade, tão mal-pagos, eles são pessoas que nos abrem portas maravilhosas, as portas do conhecimento. Já não lembro mais da professora que me ensinou a ler, mas ela me deu um dom maravilhoso. Mas outras se sucederam e solidificaram essa fonte de prazeres e conhecimento que eu e meus colegas recebemos. Nosso mundo é melhor graças a essas professoras (e professores). As palavras amigas que nos oferecem em horas de desânimo, também tornam nosso mundo um pouco melhor. A banhista que, ao chegar nas ilhas paradisíacas de Angra, percorre a praia juntando o lixo que a inconsciência de outros despeja no mar, também torna nosso mundo um pouco melhor. São essas pequenas ações que precisamos admirar e imitar. São as grandes iniciativas modestas, como a de Dona Zilda, que precisamos noticiar e incentivar, se não der para imitar. É uma enorme perda que o mundo sofre com esta morte. Nossa maior homenagem a ela será não deixar que seus esforços para melhorar o mundo sejam soterrados pelos escombros éticos entre os quais vivemos.

1 comment:

Guido Cavalcante said...

Dª Zilda, coitadinha, não viveu para ver o horror em que o Haiti devastado esta se tornando diante do nosso consentimento. A desorganização que podemos ler no noticiário, só acontece por que o mundo mantém um total desprezo pelo Haiti. Desde a independência o Haiti foi atacado, primeiro pelas tropas inglesas e napoleônicas - o que equivaleria em termos atuais a combater contra superpotências, como hoje são os EUA ou a China; o Haiti não saoiu derrotado e o ódio àquela nação de negros libertos e altivos se tornou permanente. Nenhum país, nunca, auxiliou o Haiti. O Haiti não tem aliados ou amigos, sómente credores e usurpadores. Por isso o caos agora campeia entre as nações que estão tentando controlar a situação lá. Ao ponto que a ajuda não chega para nenhum haitiano. Que daqui a pouco, com certeza vão se ferir e matar entre eles, como se tornam esses animais criados em cativeiro para posteror abate. Os currais superpopúlados levam à selvageria, ao ponto de se devorarem mútuamente. É o que o mundo está agora fazendo com o Haiti. A ajuda não chega porque todos querem que o maior número possível de haitianos simplesmente morra, pois ninguém tem condição de ajudar toda aquela massa humana esfarrapada, doente e machucada. Assim, instaura-se uma profilaxia sórida, simplesmente extirpando o maior número possível de elementos - os ferimentos se encarregam de fazer isso. Não me sai da mente e da alma a imagem de uma garota, adolescente, carinha linda, deitada na rua depois de ser resgatada. Foi há uns três dias atrás. Com certeza ela está morta. Uma a menos, na contabilidade sinistra, para ser tratada, alimentada, limpa e devolvida feliz à uma nova vida. Quer Dª Zilda peça piedade para todos nós.