Temos escalas diferentes, Dona Zilda, não fosse sua morte, era escala de prêmio Nobel. Vidas preciosas, que, mesmo sem os holofotes das câmeras de TV e dos flashes dos papparazzi (será que tem tantas consoantes assim?), são as mais iluminadas. Outras pessoas, em escalas mais humildes, também deixam um mundo melhor para seus sobreviventes: incluo aí os professores. Tão desvalorizados em nossa sociedade, tão mal-pagos, eles são pessoas que nos abrem portas maravilhosas, as portas do conhecimento. Já não lembro mais da professora que me ensinou a ler, mas ela me deu um dom maravilhoso. Mas outras se sucederam e solidificaram essa fonte de prazeres e conhecimento que eu e meus colegas recebemos. Nosso mundo é melhor graças a essas professoras (e professores). As palavras amigas que nos oferecem em horas de desânimo, também tornam nosso mundo um pouco melhor. A banhista que, ao chegar nas ilhas paradisíacas de Angra, percorre a praia juntando o lixo que a inconsciência de outros despeja no mar, também torna nosso mundo um pouco melhor. São essas pequenas ações que precisamos admirar e imitar. São as grandes iniciativas modestas, como a de Dona Zilda, que precisamos noticiar e incentivar, se não der para imitar. É uma enorme perda que o mundo sofre com esta morte. Nossa maior homenagem a ela será não deixar que seus esforços para melhorar o mundo sejam soterrados pelos escombros éticos entre os quais vivemos.
1 comment:
Dª Zilda, coitadinha, não viveu para ver o horror em que o Haiti devastado esta se tornando diante do nosso consentimento. A desorganização que podemos ler no noticiário, só acontece por que o mundo mantém um total desprezo pelo Haiti. Desde a independência o Haiti foi atacado, primeiro pelas tropas inglesas e napoleônicas - o que equivaleria em termos atuais a combater contra superpotências, como hoje são os EUA ou a China; o Haiti não saoiu derrotado e o ódio àquela nação de negros libertos e altivos se tornou permanente. Nenhum país, nunca, auxiliou o Haiti. O Haiti não tem aliados ou amigos, sómente credores e usurpadores. Por isso o caos agora campeia entre as nações que estão tentando controlar a situação lá. Ao ponto que a ajuda não chega para nenhum haitiano. Que daqui a pouco, com certeza vão se ferir e matar entre eles, como se tornam esses animais criados em cativeiro para posteror abate. Os currais superpopúlados levam à selvageria, ao ponto de se devorarem mútuamente. É o que o mundo está agora fazendo com o Haiti. A ajuda não chega porque todos querem que o maior número possível de haitianos simplesmente morra, pois ninguém tem condição de ajudar toda aquela massa humana esfarrapada, doente e machucada. Assim, instaura-se uma profilaxia sórida, simplesmente extirpando o maior número possível de elementos - os ferimentos se encarregam de fazer isso. Não me sai da mente e da alma a imagem de uma garota, adolescente, carinha linda, deitada na rua depois de ser resgatada. Foi há uns três dias atrás. Com certeza ela está morta. Uma a menos, na contabilidade sinistra, para ser tratada, alimentada, limpa e devolvida feliz à uma nova vida. Quer Dª Zilda peça piedade para todos nós.
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