Monday, March 16, 2009

Voo sem paraquedas

Esse fim de semana, com alguns amigos batendo papo aqui em casa, todos ligados, de um jeito ou de outro aos afazeres literários, foi inevitável que a conversa recaísse no acordo ortográfico. A doce Natércia, saída da pureza dos versos de Camões, reclamava dos hífens: Alguém antes da reforma havia se preocupado com os hífens?, ela perguntava, e respondia em seguida: Ninguém! Mas agora todos estão preocupados com eles.
O Márcio, filho do autor de Casa da mãe Joana, educado por um pai cujos conhecimentos gramaticais excedem os dos comuns mortais, defendia os acentos e tremas, e relatava as exceções que foram suscitadas pelas novas regras ortográficas. (O computador está sublinhando de vermelho a palavra exceção. Será que errei?Não importa a combinação de letras, ele exibe esse sublinhado, e eu passo a duvidar de mim mesma: será que o próximo passo da reforma ortográfica não será abolir as palavras sobre as quais mais se tem dúvida?)
Bem, eu fico pensando que tenho um carinho especial por alguns dos acentos que usei por toda a vida, e dos quais custo a abrir mão. Talvez o que mais me custe abandonar seja o circunflexo de voo, que me servia de paraquedas toda vez que conjugava este verbo. Voar, agora, ficou muito mais perigoso. Vou entrar nos aviões sem essa garantia, abandonando o acento na alfândega, mas carregando escondido um trema que me agüente nas situações de susto: duas mãozinhas levantadas, em pedido de socorro –Valha-me Deus, já que os gramáticos me passaram a perna!
Riamos, brinquemos, enquanto não chega o decreto que acabe, também, com o subjuntivo. Boa semana a todos. E não se esqueçam de usar, amanhã, alguma coisa verde, em homenagem a São Patrício, o conservador dos acentos. Esse verdinho, segundo os irlandeses, traz boa sorte para quem o usar.  São Patrício foi um bispo do bem, provavelmente tomava cerveja, já que era irlandês, e ria muito. Rir, como muita gente sabe, é o melhor remédio. 

1 comment:

Wagner Marques said...

Então, riu:
kkkkkkkkkk