Chorei desesperadamente, como há muito não chorava no cinema, as lágrimas gordas e quentes descendo sem parar, e eu tentando não fungar, para não atrapalhar o resto da plateia. Que ódio me deu do Pinkerton! Que reação, que nem eu mesma consigo entender, pois essa era uma das óperas que mais se ouvia lá em casa. E eu já assisti mais de uma montagem, mas nenhuma tão bela quanto essa, diga-se de passagem.
Estou aqui, triste demais para poder ir dormir, cantarolando áreas e relembrando cenas e detalhes. Aí lembrei que há muitos anos, comecei a escrever um poema para a Butterfly, mas fiquei empacada, igual ao Bentinho, com seu soneto "perde-se a vida, ganha-se a batalha…" Eu lembro de um verso: "Somente aos quinze anos se sabe amar" Não me lembro se escrevi mais alguma coisa, mas sei que nunca terminei, embora soubesse exatamente o que queria dizer: a gente só consegue amar, se entregar, confiar, quando se é muito jovem, sem maldade. Na nossa inocência não vemos a possibilidade do mal. E mergulhamos de cabeça, avançamos sem couraça, achando que a emoção que sentimos resgata o mundo. Todo nosso corpo reage, o sangue acelera, a respiração falta, as mãos tremem e ficam geladas. Encontrar com o amado, mesmo quando a gente sabe que ele vai estar naquele lugar (no colégio, ou na festa) provoca uma comoção. O coração pula uma batida, ou mais, nossas pernas bambeiam e precisamos nos segurar para não cair. Somos capazes de loucuras, mas também somos muito tímidos, inseguros, e às vezes nunca encontramos a coragem de abordar o alvo de nossa paixão. O primeiro beijo, então! Finalmente experimentar o gosto do amor, mas totalmente incapacitados, exagerando nos trejeitos, ou mantendo-nos tão rígidos que corremos o risco de quebrar os dentes e até a própria língua, que se transforma numa inconveniência...
Bem, claro que falo isso a partir de minha experiência, ocorrida num tempo muito mais doce, muito mais suave que o de agora.
Sempre fui complicadinha, querendo encontrar a perfeição onde só se pode encontrar humanidade. Pobre Butterfly. Leal, entregue, vencida, achando que não exigia nada quando sua demanda era muito maior que seu amado. Um canalha, aquele Pinkerton, mas os homens, na época, se davam esse direito de serem canalhas. Se eu fosse escrever o libreto, minha vontade era de fazer o B.F. Pinkerton estourar os miolos de remorsos. Só que ele é tão canalha que vai levar uma vida fracassada, criando o seu japonesinho louro, bebendo todas para esquecer que uma mulher muito melhor que ele, por tê-lo encontrado, tinha sido destruída.
Mas vejam a safadeza do Puccini, colocando o nome do canalha de Benjamin Franklin e o do navio que o transporta de Abraham Lincoln...Para bom entendedor…Eles estão sempre escondendo os interesses pessoais atrás de símbolos da democracia. Aparecem cheios de grandes palavras, mas no fundo, só o que querem é mesmo f&*er os outros!
Bem, acho que o sono, finalmente, vem chegando. Queria um coro de anjos assim, como o coro que acompanha a Butterfly ao seu "cadafalso". Aquela música parece as asinhas dos insetos numa tarde de verão, não acham?
1 comment:
Ouvi pela 1a vez Madame Buterfly, numa transmissão da MEC pelo rádio do meu carro.Estava só,nào consegui parar de chorar. Marcio
Post a Comment