Friday, October 17, 2008

Bobagens e tendências

Começo pela bobagem: Quis colocar a capa de meu novo livro no Blog, mas não consegui. No entando, quando se clica sobre uma das capas, vai-se ter ao site onde está sendo vendido o novo livro. Quando se clica sobre outra, vai-se ao livro antigo, mas num site que já não dispõe do livro para a venda... Bem, tentei consertar um e outro, mas não consegui. Desculpem-me vocês...
Agora, as tendências:
Quem já leu o novo livro sabe que é um livro triste, falando muito sobre morte. Percebo, porém, que não sou a única a estar escrevendo sobre o assunto, no momento: parece ser uma tendência, pois tudo o que tenho lido ultimamente tem a ver com esse assunto. Li O Fantasma sai de cena, do Philip Roth; li Homem no escuro, do Paul Auster; li A elegância do ouriço, da Muriel Barbery; li o último da Inês Pedrosa, A eternidade e o desejo, falando sobre Vieira; li Le Diable Rouge, de Antoine Rault, uma peça teatral; li O animal agonizante, também do Roth. Em todos esses livros a morte se encontra entronada, uma presença que domina a cena e os pensamentos de todas as personagens. Seria porque os escritores estão mais maduros, mais velhos, mesmo? Philip Roth já está com 75, Paul Auster com 61, a Inês Pedrosa e a Barbery já passaram dos 40, só não sei a idade do Rault. A morte. Chega um momento em que percebemos que ela está sempre a nosso lado, ou talvez em nós mesmos. Companheira silenciosa de viagem, de repente ela quebra seu mutismo e começa a dialogar com nossos planos e sonhos. Especulamos sobre ela, ou imaginamos sua chegada, constatamos as pequenas mortes que sofremos a cada dia, olhamos os estragos que seu anúncio provoca no nosso físico, observamos a agonia dos outros e a nossa própria.
Descobrimos que somente duas coisas nos engrandecem: o amor e a morte. Mas, enquanto um é finito, a outra infinita -- nossa única possibilidade de eternidade é não sendo... Que ironia.
Mas não estou para muitas palavras hoje. As datas tristes me emudecem, eu me recolho e digo adeus, ou olá para quem já se foi. Sei que sou o túmulo de mim mesma, de alguém que foi tão alegre e espontânea e que hoje se encerra num labirinto de astros extintos. Aguardo, relembro, recrio.

4 comments:

Anonymous said...

Quero amar a morte com o mesmo desengano que amei a vida (não é meu - quisera - é do Bandeira). Quero que minha morte seja meu único fiel amante. Beijos e até a semana,
Eugenia.

Guido Cavalcante said...

Me impressiona a quantidade de livros que você lê: eu ando lendo há uns bons seis meses o Austerlitz, do Sebald e ainda não passei da pg 165 (fui conferir). Já fui um devorador de livros, agora nada mais me faz realmente a cabeça...

Devemos escrever tanto sobre a morte porque preferimos morrer entubados no hospital, ao invés de morrer em casa, com toda vizinhança ao redor. Tornou-se vergonhoso morrer na própria cama - atribuímos isso à negligência, por não termos um bom médico por perto

Guido Cavalcante said...

Já ia me esquecendo do que queria dizer sobre a morte: que este afã de conhecer, de entender, de explicar, de romancear a morte talvez esteja na razão direta de nossa única razão na terra:negar a própria natureza! Que afinal, é o papel fundamental e única razão para a existência do ser humano (além de aprender a colocar vírgulas, é claro:-)

Guido Cavalcante said...

Outra coisa mais sobre a morte no Brasil. O nosso é um país extremamente "mortífero", no sentido que aqui a morte é massiva. A violência permeia toda a vida e não como um "tema", mas como condição. A morte ronda nossas casas(eu e minha mulher já dormimos uma noite no corredor daqui de casa, enquanto o tiroteio corria solto na favela vizinha - moro na pça. General Osório. O que chama atenção é que a morte deixou de ser ídilica, a morte não é romântica, a morte não é sublime no Brasil. Vimos isso na morte da garota agora em São Paulo, onde a morte já estava anunciada e esperávamos impassíveis pelo desfecho. Acho que esta "nova morte" que está entre nós, a morte anunciada e prevista apresenta novos propostas para os artistas - principalmente porque acabamos com a dor individual - o sofrimento agora é coletivo.