Sunday, October 05, 2008

Campanários, araucárias e carinho

Estive, no dia 3, na cidade de Guarapuava, que significa "lobo bravo". Cheguei lá de ônibus, um ônibus confortável, a bem da verdade, limpo e veloz. Paramos algumas vezes no caminho, uma das cidades chama-se Pitanga, mas não vi pitangueiras por lá. Chegamos -- sim, nós já tínhamos virado uma troupe: Rúbia Romani, Ana Ferreira e eu -- e tomamos um táxi com um motorista surdo. Gritamos nosso endereço e ele, depois de algumas confusões, conseguiu nos deixar no SESC. De lá me levaram no hotel, pois as meninas ficaram para fazer uma apresentação à tarde. Eu passei o dia criando uma apresentação em power point. Fiz duas, para platéias diferentes. Enquanto escrevia, o tempo mudava. Resultado, saímos debaixo de chuva e tivemos uma platéia não muito grande, mas interessada, de olhos atentos e respiração sustida, um prazer! Resultado, resolvemos comemorar nosso sucesso com um jantar de despedida, mas cometemos um erro: pedimos um drink antes, um tal de mogit-coco,que nos nocauteou. Pelo menos a mim, que nem sequer consegui comer meu delicioso linguini ao molho de funghi. Porque o restaurante era muito bom: Via Napoli, acho que era esse o nome, provei e estava muito gostoso, mas os dois goles que dei no meu drinque me abateram. Bem, para quem fica tonta com um molho de vinho, dois goles é uma verdadeira esbórnia!
No dia seguinte, a chuva havia se intensificado. Temporal, tão forte que não me animei a atravessar a praça, plantada de araucárias, para visitar a igrejinha de Nossa Senhora de Belém. Ela, porém, não se fez de rogada: nos acompanhou no caminho até Curitiba, numa estrada tornada perigosa por causa da chuva e da neblina. Ao chegar na cidade, não sabíamos nos orientar. As minhas companheiras, embora fossem daqui, são "pedestres", como disse o motorista que, sendo de Guarapuava, não conhecia nem sequer o caminho para o SESC da Esquina, nossa primeira parada. Depois, até a Av. Batel, conseguimos cometer todos os enganos possíveis, inclusive nos metermos na via exclusiva de ônibus. Cheguei em cima da hora, num Quintana lindo, um lugar charmoso e acolhedor, e fui recebida com carinho pelo meu editor, o Rogério Pereira, preocupado com o meu sumiço. Explico: tinha me esquecido de ligar o celular, que tinha ligações dele e de um amigo dos tempos do Guilherme, o Caldeira. Rogério me apresentou a seus amigos, à sua família, ao restaurante, à bela e encantadora Sofia, com narizinho arrebitado e boquinha pronta para o beijo. Como é linda a Sofia, com seus cachinhos dourados e bochechinhas rosadas, contando do cachorro Lúcio e do tio Borges. E lá estavam as belas rosas do Caldeira, com um bilhete encantador dele e da Maria. Depois apareceu o Amauri, meu leitor há dois anos! Obrigada, amigos. E depois ainda vieram a Cidinha e o Claudinor, e minhas companheiras de viagem, que, muito delicadas, depois de matarem as saudades de seus namorados vieram me escutar ler os contos. A Ana, inclusive, trouxe seu amado, e o da Rúbia, trabalhando, não pode comparecer, mas providenciou minha reserva no hotel e me acolheu quando cheguei, e percebi, espantada, que tinha esquecido minha bolsa no Quintana!
Bem, li os contos. Rogério me estimulou a ler A predadora -- e eu li, mais de uma vez. Na primeira, fiqui encabulada -- o conto é muito explícito, acho que chega a ser gráfico -- mas depois perdi a vergonha e, na segunda leitura, para o pessoal da cozinha, até rimos juntos. Prometi escrever um com o cenário da cozinha... Estou só imaginando as besteiras! Acho que eles também. Gabriela, a chef e uma das sócias do restô, é encantadora. Linda além de cozinhar como um anjo. Comi o melhor acarajé de minha vida, juro! E a feijoada...é perfeita. Pena que não pude provar o resto. Dei uma bicadinha no barreado, mas não é um prato que me empolgue muito, que me desculpem os paranaenses. E nem provei as sobremesas variadas, deliciosas de olhar, imagino só de comer... Também li outros contos: O ovo, O carona, Circo erótico e Noivado. E, a cada leitura, o prazer de perceber que as pessoas gostavam, se emocionavam comigo, ou riam comigo, ou se encabulavam também.
Mas meu dia não havia ainda terminado. Vim com a Rúbia para o Hotel Valentini Di Lucca, um apart hotel gracinha, a dois passos do Quintana, na R. Francisco Rocha. Bem, depois de voltar para pegar minha bolsa, pude relaxar um pouco e ficamos na conversa até tarde. A chuva não nos estimulava a sair do hotel, e ficamos vendo e mostrando fotos, conversando e vendo televisão, jantando no próprio apart, até que chegou a hora da saída de seu namorado e minha amiguinha se foi. Eu dormi logo, feliz com tanto carinho recebido num só dia. Pois, além dos meus amigos, os amigos do Rogério e sua família me cumularam de atenções e gentilezas. Adorei a sua esposa Cris, e sua mãe. Me encantei com a Liz Wood, sua filha e as suas fotografias expostas nas paredes do Quintana, retatando com muita sensibilidade e emoção a performance de bailarinos com deficiência motora. Cunhados, sobrinhos, amigos -- como deixar de falar no Odilon e sua Dorianne, que além de me testemunharem seu prazer em me escutar ainda me deram uma homenagem por escrito, feita ali na hora pelo Odilon, que se desculpou pela letra de médico?
Foi um dia maravilhoso e agradeço, de coração, a todos os que me deram tanto carinho e estímulo. Só posso repetir, mil vezes: OBRIGADA!

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