Hoje de manhã, quando a Mauriza estava vindo nos trazer até aqui, fiquei sabendo que Umuarama quer dizer: lugar quente onde os amigos se reúnem, e que a cidade se auto-intitula capital da amizade. Bem, só posso dizer que Umuarama deu uma refrescada para me receber. Já falei da chuva e dos trovões e, como esperava, o plano B da Gislaine funcionou perfeitamente e tivemos um evento sem susto, mas com muito menos público do que o aguardado. Culpa do tempo, que hoje, aqui em Campo Mourão, já desanuviou e está quentinho, com sol aberto. Dei uma passeada pelo centro da cidade, mas estou muito preguiçosa, nem tirei retrato. Há uma enorme igreja, com duas torres, numa grande praça; bastante comércio -- a cidade é grande e próspera--, e belas casas, alguns edifícios, tudo com boa aparência. Meu hotel, embora com Palace no nome, é xinfrim. Mas meu quarto tem ar condicionado e, à frente da janela, uma árvore hospeda um passarinho que deve ser lá de Umuarama -- ele está deliciado com a minha visita e já veio na minha janela um monte de vezes, cantar para mim.
Os jacarandás e as sapipucaias providenciaram um tapete de flores roxas e amarelas daqui até o SESC, para eu passar. No caminho, encontramos o XAXIXÃO : lanche é isso, o resto é sanduíche! Refiz toda a palestra (não consigo repetir todos os dias a mesma coisa), fui ao cabeleireiro, andei bastante, para descontar os últimos dias em que só tenho ficado sentada em carros, trens, aviões, aeroportos, e mais carros e saguões de hotel. Esse é o resumo de minhas atividades. Encontrei com a Daniela do SESC, lindinha, com duas covinhas enfeitando seu sorriso, e um enorme entusiasmo pela primeira feira de livros que ela está organizando. Tuso me pareceu tão bem, que achei que ela era veterana!
Mas, o que mais tem me encantado é a coleção de histórias de amor que tenho escutado. Coisa mais deliciosa, estar no meio de gente que ama e é amada! Olho para os sorrisos, os olhos sonhadores, escuto os suspiros e as histórias, e sinto um grande encantamento. Gislaine, e Mauriza, de histórias tão diferentes, mas igualmente felizes. Ana e Rúbia, uma de casamento marcado, a outra no primeiro mês de namoro. Bira, avô de pouquinho tempo, netinho recém -nascido na distante Maputo, reclamando dos braços vazios, mas com o coração transbordando! E eu falando da morte de Machado de Assis, informando a uns e outros que as últimas palavras de Machado foram (provavelmente) A vida é boa! Tenho que concordar com esse meu velho e querido mestre. Machado, meu querido Machado, engraçado, inteligente, instigante...Receio que não esteja fazendo jus a você! Queria tanto que todos os que me ouvissem saíssem de minhas palaestras com um desejo louco de te conhecer! É só o que desejo, não procuro glórias para mim, mas gostaria de facilitar o encontro das pessoas com a sua obra. Fico contando os enredos dos romances, provocando, seduzindo, fazendo meu papel de serpente às avessas, acreditando piamente que quem morde o fruto que ofereço encontra o caminho do paraíso. Mas nem todos mordem. Percebo, quando falo, que algumas pessoas nunca escutam as outras. Sinto minhas palavras escorrerem e cairem no chão, desaproveitadas. Mas, aí, olho em outra direção, e vejo que minhas frases estão sendo absorvidas como água de chuva.
E agora paro por aqui. Meu vizinho passarinho está de novo em frente à minha janela, me fazendo uma serenata de um dos galhos. Um coro de bentevis faz contracanto, mas fora de minhas vistas. Vou escutar meu concerto, e assistir o balé das folhas, animadas pelo vento que começa a soprar.
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