Tuesday, September 04, 2007

Melhor que Prozac

André de Leones colocou esta carta, ou crônica ou louvação, no blog dele. Pedi-lhe licença para copiá-la no meu e vocês, ao lerem, vão ver por quê. Há muito tempo que não recebo tantos elogios, e tão bem escritos. E assim, por puro narcisismo, coloco aqui, e a ela recorrerei sempr que a auto-estima baixar.
Obrigada, Dré. Não mereço, mas gosto de ler assim mesmo.

LÚCIA B.

A primeira vez em que eu ouvi falar de Lúcia Bettencourt foi em um dos dias mais felizes da minha vida: o dia em que o Henrique me ligou dizendo que eu era o ganhador do Prêmio Sesc de Literatura. Eu era o romancista da hora, e Lúcia, a contista. Siameses.

A gente começou a se falar por e-mail e, então, em um dia particularmente delicioso, ela me ligou. A voz dela. A voz da Lúcia era uma voz delicada, pequena, e eu me surpreendi ao encontrá-la pessoalmente meses depois, na ABL, pro lançamento dos nossos livros: Lúcia Bettencourt era, e é, um mulherão.

Viajar com esse mulherão pelo Brasil, promovendo nossos livros e o Prêmio Sesc, valeu por duas ou três faculdades, como se diz por aí. Essa mulher, a quem eu, orgulhosamente, chamo de "mana", me ensinou mais do que eu mereceria saber. Claro que, em Passo Fundo, onde estivemos juntos para a Jornada Nacional de Literatura, a coisa não poderia ser diferente.

Ainda em Porto Alegre, ao chegar ao hotel, vê-la caminhando na minha direção, dizendo o meu nome, foi o tipo de coisa que me deu toda a segurança do mundo pra Jornada que se iniciava, algo como a certeza de não estar sozinho. De fato, após sei lá quantas viagens juntos, acho que ia ser muito difícil encarar a estrada sozinho, sem a conversa, o ótimo humor, os livros e as guloseimas de Lúcia. Siameses.

A emoção maior, contudo, ainda estava por vir. Foi em Passo Fundo, no Circo da Cultura, onde assistíamos à cerimônia de abertura da Jornada. Havia uma senhora simpática sentada à minha direita (Lúcia estava à esquerda), com alguns papéis no colo. Nesses papéis, meio que sem querer, eu li o título "A Mãe de Proust" e o nome da Lúcia juntinho do número "1″. Foi quando eu saquei: aquele era o resultado do Concurso de Contos Josué Guimarães.

Minha primeira grandimensa emoção em Passo Fundo foi ver a Lúcia subindo aqueles degraus pra receber o prêmio (cinco mil reais, troféu e viagem pra Santiago de Compostela). O que vinha à minha cabeça era uma coisa só: ELA MERECE. E merece mesmo. Merece isso e muito mais.

Na quarta-feira, quando, à noite, Lúcia participou do debate sobre "arte e transcendência", sua exuberância verbal mais uma vez ganhou a platéia. Claro que o strip à Gilda angariou, de cara, a simpatia das milhares de pessoas presentes (Lúcia tirou apenas as luvas, como Rita Rayworth, e não precisaria tirar mais nada - como Rita Rayworth, aliás, não precisou), mas suas colocações, claras e pontuais, colocaram no saco o academicismo caduco e/ou displicente de alguns dos debatedores. Lúcia emprestou carnalidade à transcendência, e o debate ganhou peso de verdade. Aqueles aplausos, ao final, tenho certeza, foram quase todos pra ela. Os meus, pelo menos, foram todos pra ela. Como poderiam não ser?

Eu não vou ficar aqui dando uma de biógrafo e contando coisas e loisas da vida da Lúcia, até porque eu não tenho esse direito. Mas posso dizer que ela passou por poucas e boas, e que o Prêmio Sesc foi encontrá-la, há mais de um ano, meio que aos cacos. Gosto de pensar que ela vem se recolocando de pé, e percebê-la fazendo isso é algo dolorosamente lindo e incrivelmente inspirador. Sabe aquilo de andar por aí com ela valer por duas ou três faculdades? Pois é, tem a ver com isso.

Não me faltam motivos pra essa rasgação de seda explícita, mas nunca gratuita. Eu me lembro de quando, por exemplo, contei à Lúcia que tinha conhecido uma mulher em Paranaguá e que, por causa dela, estava deixando tudo em Goiás para me mudar pro Sul e me casar. Acho que ela foi uma das poucas pessoas que não me censuraram, não me sacanearam, nem nada parecido. E isso foi importantíssimo, porque eu estava jogando tudo pro alto e, porra, estava morrendo de medo de quebrar a cara, claro. Lúcia me deu a maior força. E me deu um dos melhores conselhos que eu já recebi em toda a minha vida: "Torne tudo motivo de festa. Mesmo coisas simples, como arrumar a cama de manhã cedo." Tenho seguido esse conselho à risca, e, caramba, estamos todos muito bem.

Este texto há muito deixou de ser (nunca foi) uma crônica ou croniqueta diretamente relacionada com a minha participação na Jornada de Passo Fundo (prometo compensar nos textos seguintes) para virar uma desavergonhada declaração de amor por essa mulher extraordinária. Daí que peço desculpas pelo derramamento talvez excessivo, ao mesmo tempo em que digo: dane-se.

Quem conhece bem a Lúcia, sabe que ela merece. Merece isso e muito mais. Love, sister. Siameses.

4 comments:

Anonymous said...

Voce tem toda razão, quem conhece um passo a mais na alma da nossa Lucia B sabe que ela merece tudo. Sou fã dela de carteirinha e tenho o privilégio de poder "prosear" de vez quando com ela...mas diga-me uma coisa voce tambe é um luxo de pessoa. lembro de voce no prêmio Sesc e tive o prazer de bater um papinho rápido quando comprei o seu livro no meio do empurra empurra. Voce tambem merece é um avatar da literatura.

Klotz said...

Digitei: "josue guimaraes concurso 2007 resultado" no Google buscando o óbvio. Graças ao Orkut , eu já sabia que Lúcia Bettencourt havia faturado o primeiro lugar. Procurava realção dos outros lugares do pódium, das menções honrosas.
Fui premiado com esta pequena e bonita homenagem. Legal!

Anonymous said...

Não é rasgação de seda André. Voce falou tudo o que a Lucia merece mesmo.
Eu vivo na periferia de voces, me contento lendo o que escrevem mas na unica vez que falei com a Lucia senti o quanto ela tem de bom no coração. Nunca a esquecerei, pois ela merece ser lembrada sempre.

Unknown said...

Esses três comentários anteriores já dizem quase tudo ... Grande abraço, Tereza.