Tuesday, January 23, 2007

Babel: filme e torre

Qual a história mais comovente de Babel? Para uma amiga minha era o drama da japonesinha à procura do amor. Quem terá chamado a atenção do roteirista para o drama dos surdo-mudos? Não é interessante que seja essa a história que fica em suspenso? Ali está localizado o pecado original -- o começo de tudo, o primeiro degrau da torre. Naquela menina faminta há uma raiva metafórica que prefigura o filme: a falta de amor levando à agressividade. Naquela cidade futurista, dos neons e dos arranha-céus, situa-se a falta primordial: de amor, de fala, de compreensão, de humanidade. Essa falta se repete, em maior ou menor escala, pelas outras regiões, pelas outras culturas. Na verdade, a falta que ocupa o centro do filme, não é da fala, do discurso. É da compreensão, do desejo de escutar o outro, da vontade de se colocar no lugar do outro e de vê-lo não como um rival, mas como um irmão. Os discursos são muitos no filme: o político, o social, o familiar, o cultural, etc. Mas todos são despejados em ouvidos surdos, desatentos, egoístas, narcísicos. Minha amiga achou graça no desespero da japonesinha, e, sem querer, percebeu o ponto central ao redor do qual se organiza o mundo de Babel: todos falam, mas os outros não escutam. Vivemos encerrados em nossas torres egóticas, funcionando através de preconceitos e de predisposições. Quem sabe o filme é a rachadura na torre?

1 comment:

André de Leones said...

O melhor comentário acerca de BABEL que eu li.

Beijos, mana.

Saudades.