Tuesday, January 16, 2007

Amigos invisíveis

Estou há dias com esta cisma: meus amigos de internet são amigos invisíveis. Gente que imaginei, ou sonhei, e a quem vivo importunando com meus e-mails longos demais. Acho que a internet criou uma nova maneira de a gente falar sozinho e acreditar que está falando para multidões. Sempre que me encontro com algum tempo em frente a um teclado, lá vou eu me soltando e escrevendo coisas que vão brotando de outras coisas que eu nem sequer tinha a intenção de escrever ao começar a redigir. Se quero pedir uma informação sobre um hotel, por exemplo, começo falando sobre o hotel, depois passo para as viagens, daí para planos de viagem e de vida e, quando vejo, já filosofei sobre mil nadas e nem sequer esclareci qual a informação que pretendia obter. Talvez eu nem esteja mesmo precisando de informações, e tudo o que queira obter é um tempinho de aconchego, junto de pessoas que imagino, ao escrever, sentadinhas em frente a uma tela esperando minha mensagem. Portanto, estou me dirigindo não a pessoas que conheço realmente, e que sei ocupadas e cheias de programas. Quando escrevo, escrevo para esses seres que vivem do outro lado das telas, seres que não vivem sem mim, pois só existem em mim. Então, peço perdão a todos os destinatários a quem mando as longas mensagens, que demandam um tempo extra de leitura. Imaginem-me (corretamente) recorrendo ao computador como quem conversa com um companheiro sempre disponível e afável, que abre sofregamente as mensagens e se decepciona com correntes e spams, mas se encanta com qualquer conversinha um pouco mais longa...

3 comments:

Helder Herik said...

Lúcia, li seu conto na Revista Continente. Grande conto numa grande revista.
bjz

Helder Herik said...

você anda sem tempo para escrever?
ou são essas coisas da vida, coisas que ficam doendo e também tomam tempo?

lí seu "A SECRETARIA DE BORGES" escrevi sobre ele no blog. Estou repasando esse livro para amigos lerem também. a record talvez não goste, mas a você, sei que deve agradar.

bjs Lúcia

Anonymous said...

Como são essas coisas da vida... estava eu a fazer hora na simpática livraria do Cinema São Luiz [Largo do Machado], quando descobri o seu livro.

Abri, espiei, achei interessante...e recoloquei na estante! Tinha ido a procura de Amor Líquido do Zygmunt Bauman.

Depois do livro comprado e do filme visto, liguei meu ipod e tomei o rumo de casa ouvindo uma um bate-papo agradabilíssimo na MPB FM.

Imagine qual a minha surpresa, ao constatar que a entrevistada fora sido empilhada na estante da livraria minutos atrás?! rs.

Deixa estar, não tem nada... semana que vem "A Secretária de Borges" vem ocupar lugar na estante da minha casa!



Parábens pela entrevista e pelo prémio, Lúcia!