Thursday, August 11, 2011

Tempos de minha avó

Saio com a família e o papo é amor. Amor físico, que ontem foi tabu, coisa proibida, e hoje é discutido abertamente nas mesas de restaurantes. Fico escutando, descobrindo novas tecnologias que me fazem rir, graças à maneira que são descritas. Mas hoje, ao sentar aqui para escrever, o que me vem à lembrança são as histórias de minha avó.
Vovó era uma espécie de "terrorista" do sexo, suas conversas eram todas voltadas ao grande perigo de praticá-lo antes do casamento. Era uma história atrás da outra contando dramas familiares solucionados, às vezes, por um bom coquetel de guaraná com formicida. Claro que já existia a pílula anticoncepcional, mas essa ainda não tinha carimbado o passaporte no imaginário da minha avó. E o caso da virgem que engravidara do cunhado, "um sujeito porco, que deixava as toalhas sujas no banheiro!…" era comentado com algumas variações. A porca poderia ser a mulher ou a empregada. Na versão da minha avó, a virgem era sempre uma vítima.
Sua grande aversão era pelas "assanhadas" ou "sirigaitas". Essas eram um horror! Uma sirigaita dessas, apesar da mãe tão cuidadosa, que a acompanhava em todos os lugares, conseguiu "namorar" e engravidar na fila do leite! Era no tempo da guerra, acho eu, quando havia fila para tudo. A mãe devia mandar a filha para a fila bem cedinho, e lá ela encontrou um leiteiro ou outro cliente madrugador e tomou outro tipo de leite.
E haviam histórias terríveis, de moças que se enfaixavam todas para que não se descobrisse que estavam grávidas, e quando os filhos nasciam, estavam deformados porque não tinham podido se desenvolver. Ou histórias engraçadas de mulheres, respeitáveis e respeitosas que, quando grávidas, "enjoavam" do marido e só lhes apeteciam os maridos das vizinhas… Essas eram perdoadas. Afinal, enjoos de gravidez eram coisas que minha avó respeitava.
Uma história atrás da outra, mas agora, relembrando-as, vejo que em nenhuma delas era o sexo o vilão. Não tinha percebido isso, mas seu problema era a gravidez. Já na palestra de ontem, no SESC Tijuca, um dos participantes me contou de seus grupos na Igreja, e dos conselhos do padre: "quando sentirem os sintomas da atração, vocês devem se afastar e rezar até ficarem calmos!" Meu aluno comentou: "nós, com 14 ou 15 anos, se seguíssemos o conselho do padre não pararíamos de rezar!"
Bem, aí a gente fica pensando que, se todos os problemas do mundo fossem a sexualidade dos jovens, estaríamos no paraíso terrestre. O problema começou foi com Deus, ciumento, que não pode admitir aqueles dois adolescentes saudáveis e lindos fazendo aquilo que seus hormônios aconselhavam. Expulsar os dois por conta disso? Uma pequena mordida na maçã?! Mas se é uma maçã gostosa, sumarenta e doce, por que não?
Sábios são os americanos: an apple a day keeps the doctor away. Uma maçã por dia, sem culpas e sem desculpas pode ser o melhor remédio.

2 comments:

Arlei said...

Oi Lúcia,

Pra você ver que incrível: sua vó era mais liberal do que alguns jovens que surfam na onda conservadora atual. Nademos, no nada ou no tudo, para que ela não nos afogue.

Bjos do aluno que rezou mais do que precisava,

Arlei.

PS: não consegui seguir o blog.

Rosana said...

Oi Lucia, gostei muito desse artigo. Acho que nunca falei sobre sexo com a minha avó - ela não era terrorista, era uma "vovozinha"!

Beijos, Rô