Saturday, August 13, 2011

Cada qual com a madeleine que lhe aprouver…

Leitores de Proust sabem que a madeleine, aquele bolinho em forma de concha e gosto meio alaranjado, é a chave para as "memórias involuntárias", que a Clarice e outros escritores conhecem como "epifanias". Pois o Bloch hoje fala do seu chaveiro de jabulani como uma madeleine, e lá embarca ele num texto sobre roupas, mordidas de cachorro, Botafogo e Proust. E ainda consegue encaixar mais uma ou outra lembrança e uma e outra homenagem à sua ilustríssima família – isso para não mencionar o grande modelo de correção contra o qual se mede: Dapieve. Eita! Parabéns, seu Bloch, assim não precisa mesmo contar caracteres, você já chegou lá, nas merecidas férias!
Escrevo hoje numa reconciliação com o Prosa e Verso: fiquei de bom humor com a comédia da vida intelectual em quadrinhos. O leão de chácara perguntando se o cara tem carterinha de pedante é muito bom. Mas continuar e exigir que ele pague dois ingressos, um para ele, outro para o Ego, é tirada de gênio! E as outras tirinhas também são legais, como têm sido legais as pequenas vinhetas do Gatão de Meia Idade (no Segundo Caderno), falando dos presentes. Numa o Gatão oferece à sua gata, um livro de Proust. Ela agradece, dizendo: Que bom, a letra é bem grande! Noutro ele a presenteia com um disco (foi o que ele disse) de Chopin, e ela: "Dá para dançar? Adoro dançar!" Não preciso mais fazer assinatura dos paulistas! Mantenho minha esperança.
Mas a leitura continua, e me assusto: A matemática da ficção?! Contar histórias por meio de sucessões de máximas, silogismos e figuras geométricas?! A ficção como um objeto estranho "com o qual não saibamos muito bem o que fazer"?! Bem, se é matemática, talvez possamos acertar contas… Quem tem lucro?
Mas o Prosa fala sobre Versos, mesmo que seja à margem. Nas cartas, Vitor, que se apresenta como tradutor da UFRJ, concorda com PH Britto que afirma que no Brasil existem 300 leitores de poesia. Acho que não precisamos entrar na matemática da poesia, pois a ordem de grandeza é mesmo pequena em termos dos nossos 200 milhões de brasileiros… Na outra página, a chamada para uma exposição poética: TeKnósPoiÉsis – Poéticas do oral ao digital: uma experiência para todos os sentidos. Tudo junto e misturado, assim como seus patrocinadores. Fico curiosa, acho que vou acabar indo, mas desta vez telefono primeiro para evitar o barraco do Mia Couto. O evento foi muito procurado, mas a platéia era só de convidados. Os cidadãos do Rio, que financiam a Biblioteca Pública de Botafogo, são cidadãos de segunda classe perante os convidados da Cia das Letras… seria essa a lição? Espero que não. Hoje estou com um espírito muito magnânimo!
Mas aí a última reportagem me faz estremecer: O futuro do ensino de Literatura no país está prestes a sofrer um golpe?! E logo do desmoralizado ENEM(a)?! Resigno-me a embarcar nas estatísticas. Não tem jeito, para quem gosta de ler, a matemática está virando coisa fundamental. Cito:
"Poesia e letra de canção somadas comparecem em 42% das questões; romance, medíocres 12%; conto, apenas 3%; em contraste, histórias em quadrinhos têm gordos 19%".
Cito de novo:
"Drummond é quem mais aparece, 19 vezes; em seguida vem Machado de Assis e Bandeira, 7; depois, nenhum autor aparece mais de 5 vezes. Graciliano Ramos e João Cabral aparecem 3 vezes cada, menos do que Jim Davis (do Garfield) e Bob Thaves (da tira Frank e Ernest), com 4 vezes cada"…
Acho que é mesmo hora de mudar para os domínios da Matemática. Para mim, é um pouco tarde, mas aconselho aos novos escritores que sigam o exemplo do escritor português, e que usem suas letras para fazerem fórmulas algébricas. Misturando isso com uma tinta oriental, turca, árabe ou mesmo um certo ar africano, o sucesso de vocês estará garantido. Pelo menos até a próxima semana.

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