Desapontamento II: Mia querido Couto fala hoje às 15:30h na Biblioteca de Botafogo. Por que justo no dia e na hora de minha aula? Será que vou ter que brigar com a Cia das Letras?
Desabafos à parte, não vejo razão para brigar com a Cia, que me proporcionou uma beleza de palestra no sábado passado. Alex Ross falando sobre Chacona, comemorando os 25 anos da editora. Ela vai trazer um time de gente boa, e finaliza com o Amos Oz… Acho que por isso tem ventado tanto aqui no Brasil, para anunciar a chegada do Mágico de Oz. Não, não precisam rir, a piada é mesmo boba, mas me permite uma transição de assunto, ao gosto de Machado, embora sem o mesmo talento. Passo para o vento, do vento ao frio, do frio ao nevoeiro, que pode perturbar a aviação mas que torna minha linda cidade misteriosa e desejável como Salomé. Que prazer andar pela praia e ir acompanhando o desvelamento preguiçoso das montanhas! E olhar o mar impetuoso com suas ondas, cercado pelas placas cautelosas : Cuidado, correnteza.
Fico querendo me transformar num barquinho de papel e me deixar flutuar até ver onde essa correnteza pode me levar… Na falta de coragem de mergulhar nas ondas (que devem estar geladas) flutuo nas ondas do pensamento e vejo a imagem do barquinho retirada do filme Persuasion. Adorei. Assisti encantada com umas coisas disparatadas, que não sei por que chamaram a minha atenção: Atores e atrizes fora dos padrões de glamour, mas dentro do espírito da época de Jane Austen – Sem maquiagem, sem tratamento de uniformização dos dentes, sem branqueamento exagerado.
Homens e mulheres suam, suas peles brilham, a gente quase que surpreende um cheiro de suor ao entrar nas casas junto com as câmeras. Os homens fascinam. Sei que ela descreve o universo feminino como ninguém, mas talvez por isso os homens – tão desejados – sejam extremamente fascinantes. Mesmo os que a gente, à primeira vista descartaria como horrorozinhos, logo se mostram encantadores seja pela sensibilidade, seja pelo aprumo com que envergam suas fardas. E que fardas! Dei por mim imaginando como seria difícil resistir àqueles maravilhosos oficiais de marinha, chegados vencedores das guerras napoleônicas, ricos com o botim de guerra, auto estima elevadíssima pela vitória, e estatura ampliada pelo chapéu. Numa das cenas, em que o grupo passeia pelo molhe e é mostrado em silhueta, era quase que um friso grego, não de meros mortais, mas de centauros. Bem, foi assim que os vi: altos, altíssimos, com suas crinas ao vento…
A história? Sim, sempre legal, um mecanismo de compensação de Miss Austen, que amou e foi amada através de suas personagens. Vingou-se das irmãs comedoras de doces, vingou-se das manipuladoras, zombou com simpatia das mães e tias faladeiras e preocupadas apenas com o casamento das herdeiras. Na sua bem educada compostura e na capacidade de observação e reflexão, as mulheres em segundo plano são premiadas em sua constância e equilíbrio. Viva Jane Austen! Estou quase acreditando que o amor acontece desse jeito, e que não se trata de um furacão que nos arrebata para Oz. Nem de um nevoeiro que torna a noite mais fria e que nos embriaga com seu cheiro de maresia… Embora noites assim possam ser ideiais para o amor!
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