Mamute era uma boa palavra. Pesada, sólida como o animal que designou, impunha-se numa frase. Infelizmente fizeram um filme terrível com esse nome, e o estragaram. Agora, ao ouví-la, vou me lembrar do Depardieu, de suas toneladas de nariz, de seus centímetros de braços, de seu rosto suarento e de seus cabelos ensebados (ugh!). Outro dia vi no facebook uma campanha de salvação de palavras. Quais as palavras que você salvaria? Acho que a pessoa estava se propondo a salvar "inconsútil". Eu poderia ficar com balangandã, mas talvez preferisse azul, ou luar, ou rio. Talvez essa última, com sua plurissemia (aiii!) que deixaria minha palavra ora verbo, ora topônimo, ora acidente geográfico. E a imagem de um rio azulado pelo luar se revesa com a do Rio banhado de luar azul… E, ao fundo, uma jararaca se desenrosca preguiçosa, à feição de um rio entre folhagens.
Thursday, August 25, 2011
Mamutes e jararacas
Reabilitaram as jararacas, cujo veneno virou remédio. Remédio para pressão, remédio para o cérebro, remédio para a gente pensar melhor. Já estava na Bíblia, como diria Nostradamus. Ou ele não diria, mas um leitor do profeta em questão poderia interpretar a serpente do gênesis como uma jararaca que estivesse protegendo o cérebro tão pouco usado de Adão e Eva. Em que os dois se ocupavam, no paraíso? Em dar nome aos bois, é o que diz a Bíblia. Adão ( e eu assumo que Eva também desse seus palpites) tinha como incumbência nomear todos os animais e vegetais. Toda a criação! Haja imaginação. Não admira que alguns nomes tenham saído feios. Mais que feios, horríveis. Querem um exemplo? Xenartros e suas zigapófises. Bem, esse seria um Adão helênico. Tentemos outros: carduça, deputado. Esse adão brasileiro, depois de inventar girassol, borboleta, cascata, papagaio, inventou mijo, rubicundo, catarro, súcubo. Gastou sua imaginação. E, sentindo preguiça, foi criando uns nomes adaptados, tipo "pé de mesa", "braço de cadeira", "cravo de defunto". Aliás, defunto é outra dessas palavras feias. Outras saíram bem legais. Abracadabra, por exemplo. Ao ouvi-la, a gente já espera alguma proeza, pois ser capaz de dizer abracadabra sem trocar nenhuma sílaba já é um prodígio. Em compensação estupro é uma dessas palavras que não precisavam ter sido inventadas. E que são reinventadas a cada vez que são faladas. Tente dizer estuprada num meio de frase, assim meio corrido. Vai sair diferente. E estupefaciente?! É mesmo um golpe que precisa de uma boa jararaca para ser corrigido! Jararaca, cascavel, jiboia, coral, as cobras possuem nomes sonoros como trinados, que aguardavam a reabilitação das peçonhentas (argh!)
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