Wednesday, April 20, 2011

Walking on air!

Passei por toda a cidade, num ónibus double decker que quase nos matou de tanto frio. Chicago, disse-nos o guia, é um nome indígena que significa cebolas fedorentas. Na beira do lago Michigan, as cebolas silvestres brotavam e quando chegava o verão, com a humidade e o calor, elas apodreciam e deixavam o ar mal-cheiroso. Mesmo assim, um caçador de peles francês, não se intimidou com o cheiro (afinal, eles têm uns queijos que devem cheirar pior que as cebolas) e aqui montou sua cabana de caça, que era abundante. Esta é a origem da cidade, que depois se transformou na maior cidade de poloneses fora da Polônia. O que será que eles viram aqui? Acho que a oportunidade de trabalharem no Meat Packing Business, que florescia por aqui. Era tanta a matança que o rio Chicago era vermelho e completamente atulhado de carcassas e de gordura, que estava poluindo o lago. Para evitar isso, eles reverteram o curso do rio. Fizeram umas comportas, cavaram o leito tornando-o mais baixo que o lago, et voilà! O rio, agora, ao invés de desaguar no lago, corre para o sul e, através de canais, vai acabar juntando-se ao rio Mississipi, e, portanto, suas águas acabam indo parar no Golfo do México.
Apesar de ventar muito por aqui, a cidade tem seu apelido de Windy City por causa de seus políticos, faladores, que pleiteavam pela localização da World Fair aqui na cidade, concorrendo com outras duas cidades do NE dos EUA. Falaram tanto que acabaram conseguindo que a feira fosse realizada aqui e fizeram do menosprezo de um jornalista novaiorquino, que disse que a cidade era "windy", ou seja, vazia, retórica, o seu próprio slogan: Venham para a Windy City e confiram a World Fair. Bem, estou simplificando tudo porque já está tarde e eu estou cansada, mas preciso contar ainda que o incêndio de Chicago começou na Zona Sul da cidade, que era onde moravam os ricos. No lado norte, moravam os pobres que se juntaram todos na margem norte do rio para apreciar de camarote os ricos se dando mal. Acontece que o vento estava soprando para o norte, e o rio que, supunha-se, ia impedir que o fogo se alastrasse para o lado dos pobres, estava atulhado de carcassas e gordura, acabou pegando fogo. The river is on fire! foi o grito de pavor dos pobres que acabaram sendo as maiores vítimas do incêndio. No lado sul os prejuízos foram pequenos e muita coisa se conservou. No lado norte, apenas duas construções se salvaram, a torre da água e a estação de tratamento. E um grande pedaço da parte norte acabou virando aterro do lago, e criando um novo bairro. Acho que a Torre Hancock está nessa parte aterrada. Se não está, está mesmo ao lado. Não subimos na Hancock porque eu estava determinada a andar no assoalho de vidro lá no 103º andar. Muito alto. Mas lá fui eu, andar no ar. Morri de medo, mas fingi que nem era comigo. Entrei no caixote de vidro dando marcha a ré, quase sem olhar para baixo. Mas depois olhei. E tenho fotos para provar.
Boa noite a todos, vou descansar.

1 comment:

Tereza said...

E a viagem continua e as postagens também, que bom! E pelo seu entusiasmo a viagem parece estar sendo ótima! Olhe, fui pesquisar sobre a origem de "windy city" e me deparei com uma curiosidade: em Boston a velocidade do vento é maior que em Chicago, só que em Chicago, por conta da nova construção da cidade depois do incêndio em 1871, as ruas foram feitas no desenho de uma grade e aí se criaram túneis e com os edifícios enormes no sentido vertical se formou uma fonte de vento nas ruas e há lugares em que se tem de segurar o chapéu (The Chicago Loop)! Bom, pelo menos é o que eu li. Andar nesse assoalho de vidro parece bem assustador (acho que já vi numa foto num desses PPS que recebo).Vou aguardar as "suas" fotos! Você gelando no double decker e eu aqui num calor meio abafado. Só que pela janela do escritório, com o ar ligado, vejo um céu azul lindo e o meu jardim cheio de verde com pontos coloridos pelos crótons diferentes uns do outros, com a grama bem aparadinha, tudo está bem convidativo! Voltando à sua postagem, ao nome indígena, fiquei curiosa: como é a população atual de Chicago? E o jazz? E as comidas? Você só se encontra com pessoas oriundas de outras regiões ou com nativos também? Aí não é o território da Oprah? São perguntas retóricas, pura inquietação do meu reckless spirit !Bem, um grande abraço, saudades, T.T.E vou colocar a primeira e a última estrofe do lindo poema do Carl Sandburg sobre Chicago, parte dos seus Chicago Poems:
CHICAGO

HOG Butcher for the World,
Tool Maker, Stacker of Wheat,
Player with Railroads and the Nation's Freight Handler;
Stormy, husky, brawling,
City of the Big Shoulders:
XXX

Laughing the stormy, husky, brawling laughter of
Youth, half-naked, sweating, proud to be Hog
Butcher, Tool Maker, Stacker of Wheat, Player with
Railroads and Freight Handler to the Nation.