Hurra é antigo demais, não acham? E eu, todo início de ano, me divido entre o futuro e o passado, atraída pelo novo mas temerosa em deixar tudo o que for "velho conhecido". Para mim, nunca funcionam esses propósitos de tudo novo no Ano Novo. Por exemplo, se tenho que limpar o armário, separando o que for velho para passar adiante, esta é a pior época possível. Preciso aguardar uma daquelas manhãs em que acordo absolutamente esvaziada de reflexões e lembranças. Aí, irrefletidamente, tiro tudo do guarda-roupa e dou, sem nenhum problema. Na verdade, sou uma pessoa bem generosa. Gosto de dividir, de oferecer, de acolher. Se gostam das coisas que tenho (se não tiverem sido presentes e adquirido, com isso, um valor sentimental) eu ofereço. Empresto roupas de festa (emprestava, é melhor, uma vez que depois que o Guilherme morreu não tive mais ocasião de comprar roupas de festa), dou roupas de lã para amigas que viajam para o frio, passo adiante sapatos e bolsas… Dou canetas e lápis, trago presentinhos para minhas alunas e colegas proustianas sempre que viajo. Compro livros para uns e outros porque sei que uns e outros vão adorar os tais livros… Uma vez, ainda garota, fui viajar e fiquei sem dinheiro no final do passeio. Não havia problema, pois tudo estava pago, esse dinheiro que me faltou era apenas para comprar coisas. E eu já tinha comprado os presentes que ia trazer para a família. Daí que o pai de uma amiga com quem eu estava viajando fez questão de me emprestar um dinheirinho, para eu não ficar a nenhum. Era coisa pouca, mas era um dinheirinho. Aceitei feliz, saí para passear pelas ruas de Roma e me vi frente a uma linda barraca de flores. Estávamos no inverno, e aquelas flores coloridas me deixaram de tal maneira eufórica que comprei um buquê e levei de presente para a amiga cujo pai, pouco tempo antes, fizera questão de me emprestar a quantia. Eu estava tão feliz entregando as flores para sua filha que ele nem teve coragem de zangar comigo. Ela sim, falou que eu era inconsequente. Guardei o resto do dinheiro e não gastei mais nem um centavo, até chegarmos ao Brasil. Muito responsável, depois do sermão de minha amiga.
Quando me casei, vivia de mesada (éramos dois garotos, estudantes, sem emprego e sem noção). A do Gui chegava todo fim de mês. A minha, como era remessa internacional, atrasava e chegava lá pelo dia 15 ou depois. Nós pagávamos as contas com a mesada do Gui, e vivíamos frugalmente durante todo o mês. Mas, no dia em que chegava a minha mesada, tínhamos um dia de festa. Íamos ao melhor restaurante, assistíamos a um show ou a uma peça de teatro, fazíamos uma loucura que acabava com praticamente tudo o que eu recebia. No dia seguinte, voltávamos ao nosso cotidiano pobrezinho e humilde, mas com alegria. Estávamos renovados.
E assim volto eu ao tema do novo: novos tempos, novos pensamentos, novas amizades. Tenho andado fugindo do Facebook. Descobri que não sei administrar esse novo tipo de amizade. Com muita frequencia recebo pedidos de amizade no FB. Fico feliz, gosto de ter amigos, mas agora estou ficando angustiada: Como ser amiga de tanta gente? Agora no final do ano, por exemplo, meu desejo era ter mandado uma mensagem individual para cada um dos amigos da lista. Mas onde encontrar tempo para fazê-lo? Juro a vocês que sou boa amiga: eu gosto de gente. Gosto mesmo, tenho prazer em escutar as histórias das pessoas, gosto de trocar sorrisos e olhares, me agrada estar com elas em seus programas, mesmo naqueles que não são meus preferidos, só para desfrutar da companhia. Gosto de estar atenta aos seus sucessos e de me congratular com elas. Fico feliz pensando em uns e outros, admirada com a sorte que tenho de ter merecido suas amizades e gestos de carinho. Tenho saudade dos amigos distantes, compartilho da dor dos amigos que sofrem, vibro quando descubro que um deles gostou do livro que recomendei e que outro só foi assistir ao filme porque insisti, e adorou. Lamento quando indico um programa que desagrada aos amigos... chega! vocês já entenderam o que quero dizer. O problema é que com o FB não sou capaz de fazer nada disso. Nem entendo direito qual a "etiqueta", qual a regra de comportamento. Venho aqui para fazer uma espécie de ato de contrição: lamento se não estou sendo a "amiga" ideal. Mas amiga virtual é um conceito que ainda não entendi direito. Mandem-me dicas! Ensinem-me! Quero aprender a ser amiga nos tempos modernos. Saibam que me sinto feliz em receber tantas solicitações de amizade, e que só quero é ser capaz de retribuir à altura. Beijos a todos.
3 comments:
Depois desse post acho que vai haver uma enxurrada de pedidos para você ser amiga de mais pessoas. E não só no Facebook, não. Isso porque você é fantástica e quem não quer ter uma amiga assim? Sabia que até a rainha da Inglaterra está no Facebook? Pelo menos é o que dizem. Amei essas recordações do tempo de faculdade, do buquê de flores (achei super significativo, enfim, o post está muito lindo, e me desculpem se sempre elogio, mas como não fazê-lo??? Beijocas, T.T.
A melhor maneira de presentear a todos os maigos, virtuais ou não, é continuar nos oferecendo estes textos tão preciosos. Um abraço quente aqui de Ribeirão Preto.
Obrigada, Mara. Gracias, T.T. Fico tão feliz com seus comentários! Beijo
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