Tuesday, January 25, 2011

Maravilhas da ciência

Sou fascinada pelas notícias científicas que aparecem no jornal. A de hoje, por exemplo, me deixou esperançosa: nunca o quilo foi tão leve quanto hoje em dia. Aleluia, senhor! Só assim nossa luta contra a balança não parece tão vã. Fui ler, para saber quanto eu havia emagrecido e me decepcionei: O quê? Um grão de areia em cada quilo? Me pareceu muito pouco. Tão pouco que nem merecia ter sido noticiado. Mas, continuando a leitura, o artigo insistia que isso era importante pois tínhamos que pensar nas toneladas. Grande coisa. Ao invés de um grão de areia, mil grãos de areia. Coisa que cabe num punho de criança e que a gente dispensa assim, liberalmente, enfeitando castelos criados na beira da praia, sacudindo um chinelo, coisas triviais.
Mas aí lembrei de Canudos. Quatro anos de guerra porque os adeptos do Conselheiro não conseguiam se ajustar ao sistema métrico. Como é que transformavam "passos" e "braças" numa coisa estranha e abstrata, uma vareta de metro? Quem estava por trás dessa novidade? O anticristo, que, desprezando a criação de Deus, que nos dava pernas e braços para medir nosso espaço, inventava uma vareta e dizia que era esta nossa certeza absoluta. Vejam só. O metro diminuiu, o segundo encurtou, o quilo emagreceu. O anticristo solapou até mesmo sua própria certeza. E nos deixa neste mundo, cada vez mais conscientes de sua precariedade, de sua transitoriedade.
Na viagem que fiz à Verona, estive na praça onde estavam marcadas as medidas para o comércio. Era ali, no trono do príncipe, que estavam as medidas. Em caso de dúvida, era só dar alguns passos e conferir. O punhado de lenha, o comprimento do tecido, o peso do sal, naquele tempo distante estava tudo determinado, às claras. E a ninguém ocorria verificar se a medida estava dentro das medidas. Agora, aquele quilo safado, enclausurado em quartos e redomas, perde sua substância – perde sua alma. E todos ficamos desorientados, sem saber o que foi que aconteceu. Talvez seja melhor colocarmos nossos valores em público e deixar que todos nós cuidemos deles. Quem sabe? Talvez assim, no consenso, se encontre o verdadeiro peso das coisas.

1 comment:

Aninha Kita said...

Que crônica interessante, Lúcia! Adoro a leveza e reflexão que traz em seus textos, sejam os "encantados" contos ou essas admiráveis crônicas em que nos compartilha sua vida.

Tudo de bom!
Beijos, beijos!
Ana