Saturday, November 29, 2008

Liberdade

Em Maceió descubro o verdadeiro significado de liberdade. Imaginem o diálogo:
-- Onde você quer sua liberdade?
-- E liberdade tem lugar?
Isso denunciaria aos alagoanos minha identidade estrangeira, de grande desconhecedora dos caminhos da liberdade. Pois a liberdade aqui é uma linha, que se traça à direita ou à esquerda, ou até mesmo no centro. E não é uma linha imaginária que traçaríamos na cabeça, embora a liberdade aqui esteja na cabeça de todos. A liberdade se desenha com pente ou escova, reparte os cabelos, enfeita os penteados. Liberdade, liberdade.
Mas existe a outra Liberdade aqui em Alagoas, essa liberdade que se expressa nos céus azuis despejados, que aparece nos sorrisos abertos e nas vogais cantadas, que se desenha nos bordados singelos dos artesanatos. Uma liberdade de ser, de mostrar o que se é, de dizer o que se sente, de sentir sem preconceitos.
Maceió me encanta, com seu jeitinho de cidade simples, sem luxos. Com seus restaurantes japoneses que servem bolinhos de bacalhau, com as praias protegidas pelos arrecifes, que enlouquecem nas cores leitosas de azul e verde. Nos peixes que parecem flutuar no ar, de aolímpidas que são as águas; com suas lagoas múltiplas, que escurecem as noites e iluminam os dias. E como não mencionar a brisa, que sopra pontualmente todas as noites, refrescando os passeios e permitindo os amores?
Amanhã partirei, e desde já lamento. Como deixar esta terra de suavidades, se ainda nem conheci seu lado pétreo e firme, que faz a fibra das gentes?
Voltarei,Maceió. Com tempo para me banhar nestas águas macias, para caminhar sobre os caminhos de rochas, para me temperar no sol que seca e define.

4 comments:

ttttttttttt said...

legal seu comentário sobre liberdade em maceió. entusiasmo talvez com o ar livre que se tem por aqui... a natureza ... gostei muito mais ainda de quando se falou em descobrir as fibras de cada um. talvez ao se descobrir um pouco da força da gente, entre-se numa história de tristezas, submissões, violências e desrespeito, bastante desrespeito para com os humanos da restinga. mas engraçado, a gente consegue suplantar tudo isso e viver.

Guilherme said...

Lúcia!

Seja sempre BEM-VINDA!

Maravilha de texto. Nós o estamos "circulando" por entre os participantes da Jornada. Faz bem aos corações. Assim, como o "encanto" seu e suas "palavras" (acho isso meio "pleonásmico"... Rsss...)

Conforme prometi, segue o link para um texto meu, "A BAILARINA E O BOÊMIO". Acho que vai ser difícil fazer outro desses! Rsss...

http://filhosdosempre.blogspot.com/2007/02/bailarina-e-o-bomio.html

No mais, adicionei seu blog e estarei sempre acompanhando seus escritos. Se tiver um tempinho, visite o meu blog e me descubra um pouquinho mais. Essas coisas de ficar no "gabinete" me dificultam mais ações práticas. Mas eu não desisto nunca! Rss...

Beijos saudosos,

Gui.

Anonymous said...

Orgulho de coordenar um Prêmio Literário é quando além de identificar e revelar uma grande escritora como Lucia Bettencourt, você descobre uma grande mulher, com todas as suas fragilidades e delicadezas, que a fazem forte como uma rocha.
Por onde temos caminhado juntas para falar de literatura há sempre uma nova epifania e as palavras vão se impondo e nos atravessando sem cerimônia. Assim aconteceu em Triunfo, Garanhuns, Recife e agora em Maceió, sob as bênçãos de Nossa Senhora dos Prazeres, que também não somos de ferro. Bacana o título de seu texto, Lúcia, pois Alagoas a "Liberdade" povoa o imaginário popular muito antes de Zumbi dos Palmares. Para a grande maioria é apenas sonho, uma vez que estão muito ocupados com as asperezas da vida, para outros ideologia... Mas sonhar é manter a chama e desejar é em muitas situações revolucionário. Assim o povo resiste como Fabiano em Vidas Secas, sem perder a ternura e a capacidade de vislumbrar o azul do céu, aquele "azul terrível, aquele azul que deslumbra(va) e endoidece(cia) a gente". Foi uma bela jornada essa de Maceió, abençoada pela padroeira da cidade, pela poesia de Vidas Secas, as conversas em torno da literatura, as histórias Gracilianas contadas pela Trupe Gogó da Ema de Contadores de Histórias, as mulheres e homens de PALAVRA, como Lúcia Bettencourt, Luciano Pontes, Maurício de Almeida, Moacyr Scliar, Ilde, Cléa Costa, Wellima Kelly, Guilherme Ramos e tantos mais.

Anonymous said...

Lúcia , Bom muito bom seu comentário sobre a histeria coletiva pré festejos de NATAL e Ano Novo . Encontrei minha alma gêmea em pensamentos e sentimentos . Fico meio assustada , aparvalhada ( esse termo me faz lembrar meu saudoso pai , RODRIGO , português do Porto e de excelente estirpe e gosto pela leitura ) E fui lembrar de papai e deixei que o incomodo do TER QUE SER FELIZ nestes momentos de passagem de ano são uma chatice.
Adoro ler sua escritas e desejo que suas andanças pelo USA sejam bem agradáveis , bjsFafá