Acordei, sem vontade.
Há muito tempo que sou assim, pontualmente sem vontade, abro os olhos e vejo que o mundo continua existindo, apesar de...
Isso não significa ...mas, não tenho que explicar nada. Só digo que acordei e fiquei na cama, com a TV ligada, vendo coisas bobas e belas. Notting Hill, um lugar que me lembra um passado de Beatles e de sonhos, e que, revisitado por dois bobões, se torna insípido, embora ainda agradável. Depois, uma obra prima, O Leopardo, e a cena final, de beleza absoluta, solidão pujente e extremo desânimo finalmente me fez ter vontade de sair da cama e recomeçar a rotina, embora sabendo que é preciso que tudo mude para que tudo continue a mesma coisa...
Melancolia, a bile negra que sorvi a pequenos goles cuidadosos junto com o café (acho que vou usar isso no romance, gostei da frase), me acompanhou nas lembranças da noite anterior, de festa e de amigos, gente que guardo com carinho entre os cacos de meu coração (não, essa não vou usar, it's corny, como diriam meus amigos gringos, com uma palavra muito mais simpática que cafona). Festas perigosas, essas, em que voltamos ao passado. Festas maravilhosas, essas, em que encontramos amigos de toda a vida. Saber que vivemos nas memórias de quem vive em nossas memórias é muito legal -- dá uma sensação de amparo, de aconchego. Tipo reunião de família, quando, embora com pouca vivência em comum, reconhecemos nosso DNA. Claro que ali não havia o DNA químico, mas sobrava o afetivo. A gente reconhece os gostos em comum, as lembranças e ditos, ri com piadas que podiam ter sido ditas por nós mesmos, abraça crianças que não são as nossas, mas que poderiam ser, pois as vimos nascer, antes mesmo de serem.
Um abraço, um sorriso, uma notícia, tudo isso nos faz sentir a felicidade do clã. Um rosto cansado, uma fala arrastada, uma cicatriz, tudo isso nos deixa apreensivos e medrosos do amanhã. Junto a tudo, a lembrança daqueles que já não estão. A falta que nos fazem. A partida prematura. Foi no meio desses pensamentos que me chegou o e-mail do mano André, avisando que tinha sido detonado no Idéias. Ora mano, seu resenhista reconhece o essencial -- seu talento. E, se ele não gosta do texto, das histórias, isso é gosto pessoal Não invalida o escrito.
Volto às minhas resenhas, que quero aprontar antes de partir para Maceió. Junto aos dois livrinhos (novos, não houve pulinho nem promessa que me resgatasse os dois volumes perdidos) me aguardam o livro do Galera e o do Amós Oz. Estou curtindo o Cordilheira, pois estou revisitando Buenos Aires através das páginas do Galera. Sei que vou adorar o do Oz, a quem devo, aliás, o título de Linha de sombra, tirado de uma das páginas de seu livro de memórias.
Então vou terminando por aqui, deixando registrado os parabéns para a Cecília, uma das mais maravilhosas mulheres que conheço. Me orgulho de ser sua amiga, de estar em sua lembrança e de ter feito parte da espetacular República das Tabajaras. Um espaço de crescimento e de alegria, que me formou.
1 comment:
seja bem-vinda.
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