De volta ao Rio, depois do temporal...
Em São Paulo, amigos e literatura e um pouco de arte... Começo pela pouca arte exposta na Bienal, que me lembrou a música dos tempos de criança: eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré... Um andar vazio -- inteiramente vazio --, onde saí valsando a bela adormecida, que cantarolei prá mim mesma até chegar ao tobogã, lá ao fundo do salão. Recebi as instruções necessárias, acomodei-me no "tapete" voador e mergulhei, veloz, um míssil em direção ao futuro, mesmo se o futuro distasse apenas um segundo. Cheguei e fui saudada por um coro de risos adolescentes, admirados de verem alguém tão distante no tempo, tão próxima no prazer e na coragem. Rimos todos, mas sem desprezos nem zombarias, de pura admiração uns pelos outros, nos assegurando que é possível rir em tempos de crise, de vazio e de estranheza. Recebi a chave da Bienal, depois de trapacear um pouquinho e oferecer em troca uma chave que não é de casa, mas é do coração. Vi fotos, assisti uns filmes divididos em três telas, pequenos documentários se eternizando em múltiplas telas de TV. Procurei os locais de diálogo, de silêncio e de monólogo. Olhei, com olhos indiferentes, outras manifestações que me pareceram tediosas. Depois fui visitar a aranha ali ao lado, no MAM. Mas, a coisa de que mais gostei na Bienal foi ter encontrado meu "livro", bem ali na entrada, antes mesmo do chaveiro. Meu livro desconstruído, as letras esparramadas pelo chão, amontoadas numa pilha onde tudo o que eu precisava fazer era ir recuperando sua ordem lógica. Era o meu livro e também o livro de cada um de nós. Livro que só nós podemos organizar, a partir do caos, o nada que é tudo, como Pessoa definiu o mito. E, já que estamos falando em mitos e em poetas, acho que este é o melhor momento para assinalar a presença do Dr. Mindlin no lançamento do André. Levado por um amigo e vizinho, ele enfrentou uma hora e meia de trânsito para chegar lá e conversar, com a delicadeza que lhe é habitual, com os convivas. A mim me informou que está relendo Proust, com ar de beatitude. Eu, que estou fazendo as resenhas dos livros que não voltei a encontrar e que tive que tornar a comprar, pensei que bastava olhar para a expressão de encantamento no rosto do Dr. Mindlin para descobrir porque ler (e reler) Borges e Dante. O Dr. Mindlin gosta que alguém leia poesia em voz alta para ele -- confissão já repetida muitas vezes por ele, em revistas e paralelos. Dr. Mindlin, que mais uma vez me convidou para visitar sua biblioteca de Babel... Irei, desta vez irei. Será meu presente de Natal a mim mesma...
André estava radiante com seu livro novo, com os amigos à volta, com a entrevista que tinha saído no Estadão. Nós conversamos, tomamos vinho, comemos amendoim japonês colorido e misturado a outras "loucuras", numa brincadeira com a palavra nut. Parecia que estávamos num stand da Record, mas estávamos sós, à deriva, encontrando um pouco de casas e viagens passadas, de notícias antigas, dessas coisas gratas ao coração. Fiquei conhecendo novas pessoas: Plus, encore! Encantadoras, solícitas, de corações grandes e conhecimentos imensos. Um verdadeiro Parnaso. E, já que o equivalente do Parnaso pode ser o céu, saímos da livraria e fomos homenagear o santo guerreiro -- São Jorge, padroeiro dos carnavais e das cervejas. Ele certamente rogou por nós já que além das biritas tivemos deliciosos petisos. Um bela noite. Viva, Dré, que os bons auspícios te acompanhem -- e não me desamparem!
1 comment:
Oi - legal o lançamento ontem, mesmo. E a conversa. Abçs - Eduardo
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