Procurando um título para meu post de hoje, me lembrei do filme falando sobre os anos 60, quando todos nós sonhávamos com Paz e Amor. Os cariocas elegeram Paes no Rio (infame trocadilho), teriam os americanos eleito Amor nos EUA? Alguma forma de amor, sem dúvida, de alguém que se diz construtor de pontes entre as diferenças, ele mesmo um traço de união entre um negro e uma branca, entre um estrangeiro e uma cidadã, entre o desejo e a realidade. Assisti ao seu discurso de vitória -- um belo discurso, inspirador, sem muita demagogia, lembrando dos limites rompidos. Discurso de um bom escritor. Pensei em como o mundo vem suplicando por mudanças: as eleições de Lula, Chavez, Morales e Obama são sintomáticas -- ninguém quer mais do mesmo, todos estão apostando suas fichas na mudança. E, com isso, ninguém se preocupa muito com programas de governo, com propostas realistas -- o que se deseja é o ideal, às favas com o real que está nos levando à destruição. E querem as mudanças já, para ontem. Querem o símbolo e a velocidade. Querem a juventude para frear a caducidade deste nosso fim de império. Me comparei à velhinha emblemática citada por Obama -- quantas coisas ela presenciou -- quantas coisas eu presenciei... Costumo brincar com meus alunos que pertenço à pré-história da humanidade, pois durante minha vida, passei de telefone fixo e sempre mudo a celulares inoportunos; de mapas a GPS; de raio X a raio laser... Homem na Lua, Muro de Berlim, Glasnost, nada disso me é estranho. Vi o herói de Marlboro virar vítima do câncer, o coquetel de Martini se transformar em coquetel anti-aids. Meninos, eu vi -- já dizia o poema.
Esperançosa por profissão (afinal, sou brasileira), assisto essa nova era se aproximando. Ainda dá tempo? Deve dar. E tudo vai dar certo, no final. Porque -- quem se lembra? -- já nos ameaçaram com tudo, de bomba H, bomba de nêutrons, à "maré vermelha"; agora é o aquecimento global, o fim do capitalismo, essas coisas. Os filósofos nos falam da modernidade líquida -- mudanças, fluidez, insegurança -- mas eu digo que sempre fui fã do caminho das águas. Confrontada com um obstáculo, a água se desvia, procura, encontra uma passagem. Passemos, então, da era de aquário para a era de peixes -- aprendamos a nadar livres, sem as barreiras impostas pelo vidro. Mas que a era de áries não chegue já -- que os cabeças duras se afastem! Que de áries só nos cheguem os carneiros, com sua maciez e aconchego.
1 comment:
Bacana o que você diz sobre a "súplica por mudanças" - aliás, acho sempre palpitantes as suas observações porque eleas passam um sentido de urgência, contrárias as modorrentas colunas dos cadernos de domingo, onde os "fait divers" são pretenciosamente elevados à categoria do sublime, nunca os sendo no entanto.
Outra coisa: morreu Michael Crichton, o autor de Parque dos Dinossauros. Eu devo confessar um fraco por livros de aventura e me deliciei com o Parque. Meu sonho é escrever um best seller do tipo A Caçada ao Outubro Vermelho, de Tom Clancy, um típico produto da era Reagan e depois dessa provavelmente vc vai me mandar pro micro-ondas, não é?
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