Aproveito o título do Steinbeck para comentar o post de meu amigo Guido. Proust nasceu em 1871, portanto sua mãe sofreu, durante a gravidez, essas inconveniências da guerra. Tanto que foi por isso que nosso querido escritor nasceu em Auteil, que na época era uma cidade satélite, não um bairro de Paris, como é agora. Para fugir da escassez em Paris, Mme Proust se refugiou na casa de um irmão de sua mãe. Só que Marcel sempre foi uma criança frágil e nervosa, e seus parentes diziam que o temperamento dele era consequência do clima de insegurança e perigo durante a gestação. Se este fosse mesmo o caso, nossa cidade devia ser uma habitada por pessoas frágeis e nervosas, pois estamos vivendo um clima de guerra civil há muitos anos. É que a gente vai perdendo a sensibilidade, e só se dá conta de como estamos assustados quando nos afastamos por um tempo daqui, e parece que relaxamos, nos humanizamos.
Adorei o versinho do Hugo. Mas, acho que meu favorito entre os versos de Hugo é O sonho de Booz (já não sei mais o nome direito) com uma das mais belas imagens da lua que já li. Só que, minha memória me trai, e eu já não posso citar o verso tão lindo. Leiam o poema, vale a pena procurar. É longo, descritivo, comovente. Victor Hugo nos seus melhores momentos. Eu, no entanto, sempre adorei seus romances, que li lá pelos onze ou doze , idade mesmo certa para ler 93, Os miseráveis, O corcunda de Notre Dame. Quando, depois, li O perfume, só lembrava das descrições do Pátio dos Milagres e de sua mistura de seres sub-humanos. Nesta época também li Dickens. David Copperfield, para ser mais precisa. Li mais de uma vez, esse livro, saboreando ora um ora outro personagem. Uriah Heep, Mr. Micawber, Dora... Ah, se eu tivesse um centavo pelas lágrimas que já derramei lendo... David Copperfield e Amor de Perdição devem ter sido os que mais me fizeram chorar.
Acabo de receber o presente de um escritor uruguaio que conheci outro dia, na Argumento: Diego Bracco. Ele me mandou seu romance, María de Sanabria, chefe de uma lendária expedição feminina que atravessou o Atlântico, saindo da Espanha e com destino ao Rio da Prata. Ai, a minha pilha de livros. Que loucura! Está cada dia maior. Mas vou ler, é só ter um pouco de calma. Amanhã parto para SP, para um casamento, e aproveito para ver Hamlet. No avião, escolherei um livro mais fininho. Desisti do Robbe-Grillet (muito século XVIII demais), terminei o Roth, mas tenho à minha espera Manguel, G. Bernardo, B de Carvalho, Franck, Plosk e agora Bracco e um inédito de André de Leones e outro de A. Tojal. Isso para não falar no Vieira, que está me contemplando sizudamente, com ares de reprovação pelo meu descuido. Tchau, vou ler. E fazer as malas.
1 comment:
Se o Proust da Recherche nasceu em 1871, portanto ao final da guerra franco-prussiana, então a quem se refere Victor Hugo é outro e não o escritor. Eu nem sabia quando ele havia nascido. Minha natural dificuldade com os pequenos detalhes que fazem toda a diferença...
Quanto ao versinho dos ratos, evidentemente não passa de uma uma anedota escrita "em cima do joelho":-)
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