Ainda não tive a chance de comentar as outras coisas que fiz em SP. O casamento, sim, foi por isso que fui lá. Revi amigos, de outra vida e da minha vidinha atual. Fui ao teatro: na sexta fui ao Hamlet e mais uma vez me extasiei com o texto de Shakespeare. Quanta coisa boa, quanta qualidade! Pena que o diretor não tenha entendido o que estava dito. Vejam, há uma verdadeira lição de teatro, as indicações da direção, por assim dizer, naquele famoso trecho "Speak the speech, I pray you..." Hamlet ensina que há de dizer o texto sem gritarias nem grandiloquências, com simplicidade de cenário e de gestos, economia até de voz, elegância. Está tudo lá. E nada disso estava no palco. Desta vez o Aderbal se equivocou: ao invés de usar sua experiência e ensinar teatro aos jovens (e talentosos) atores, que se aventuravam com tanto destemor a representar a peça, resolveu "assinar" a montagem e só conseguiu "assassinar" Shakespeare. Sou da opinião que, sempre que se monta um espetáculo desses aqui no Brasil, é nossa obrigação assistir, para que atores e diretores se sintam estimulados a repetir o projeto e comece a se formar uma tradição. Por isso vou, e sempre aconselho todos a ir. Fui ver Marco Antônio e Cleópatra da Maria Padilha e não me incomodaram as falhas do espetáculo. Mas em Hamlet me incomodaram muito, pois poderia ter sido muito melhor. O talento do Wagner Moura é inegável. Ele não tem é técnica, sua voz não resiste aos longos trechos, mas ele sustenta seu texto e até brilha. Mas essa técnica só pode ser adquirida com a prática, e isso não existe. Mas o que não deve ser feito é criar mais obstáculos para a entrega do ator. Um guarda-roupa comprado na Osklen, que deixou Gertrudes deslumbrada, mais preocupada com seu sapato que com seu drama, e que fez o pobre Hamlet passar toda a peça com jeito de quem precisava uma troca de fralda -- isso poderia ser evitado. As corridas desnecessárias também não precisavam estar ali. O cenário pavoroso -- canteiro de obras do metrô -- não precisava existir. A câmera, enorme, atravancando os atores ---foi...mais ou menos. Se as imagens projetadas no telão tinham relevância e se tornaram um efeito cênico bacana, a câmera era grande demais, atrapalhava. A solução para o fantasma do pai foi ótima. Bom teatro, trabalhando bem o pacto de entendimento entre palco e platéia. A cena da morte de Ofélia também foi bonita, e ali as imagens da câmera foram especialmente belas e relevantes.
Resumindo: quero ver outra peça shakespeareana, e sugiro um Othelo, com o Lázaro Ramos no papel pricipal, e o Wagner ou o Selton como Iago. Acho que convenceriam... A Desdêmona acho que podia ser a Falabela, mesmo. Mas todos eles iam precisar de doses maciças de impostação de voz.
A outra peça que vi foi uma montagem para crianças do Doente Imaginário, do Moliere. Chama-se Dr. Dodói, e tem a ver com o grupo do Nereu, outro irmão em SESC.
No domingo ainda consegui encaixar uma visita ao MAM e apreciar a exposição do Duchamps.
Bem, é só isso. Meu corpo está cansado e precisa de ir para a cama.
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