Não sou bairrista. Na verdade, sou fascinada por São Paulo, cidade rica, cheia de museus, de teatros que funcionam todos os dias da semana, de lojas que parecem museus, de parques e represas com repuxos. Mas, desta vez, estou em choque.
Não pelo casamento que fui, num lugar bonito, pois aqui no Rio temos nossas casas de festas lindas, e não ficamos devendo nada a ninguém. Em outros tempos fui a festas paulistas daquelas descritas pelas Revistas Caras e pela Veja -- Numa revista o deslumbre com o luxo, na outra o ultraje com esse mesmo luxo. Eu era a platéia que aquelas pessoas necessitavam, e estava bem contente com meu lugar excêntrico, usufruindo panis et circensis. Mesmo nestas festas continuava acreditando que os cariocas não devíamos nada a ninguém. Afinal, aqui também tinha festa dos Marinhos que, na falta de leões e tigres, colocavam os globais em belas coleiras para exibir aos convidados. E festas de banqueiros que exibiam duquesas e distribuíam pashminas, já que, em janeiro, a temperatura oficial da casa era a da França, para que os duques não derretessem ao serem transplantados para cá...
Mas agora acho que os paulistas realmente conseguiram me deixar, como diriam os americanos, flabbergasted, ou seja, completamente apalermada: Eles inauguraram a primeira casa de festa para mortos. Não estou brincando, deu na Folha. Ou talvez tenha sido no Estadão. Ou provavelmente nos dois jornais, pois uma notícia destas é realmente --- inédita e também inaudita!
Passo a citar:
"Com certeza vai voltar o glamour dos velórios. É a última festa do falecido, então porque não fazer uma despedida alegre?"
Quem disse isso foi a dona da casa de festas macabras, que trajava uma mortalha azul da Daslu. Segundo ela, era muito melhor ir para sua casa de festa do que para o Cemitério do Araçá, onde há ratos e os convidados nunca sabem se entraram no velório certo.
Gente, não estou inventando! A casa de festas funéreas tem quatro ambientes: São Paulo, Roma, Paris e New York. Neste último há uma saída para uma varanda com elevador, por onde passa "o caixão para que ninguém o veja." Donde se conclui que o morto é apenas um detalhe. E isso se confirma pela existência de "sala do teretetê, porque a pessoa não vai ficar o tempo todo em cima do falecido". Na opinião dos vivos, aliás, dos vivíssimos, "o morto ficará feliz de ver todo esse conforto". Pudera! Pois se, já que ninguém vai ficar em cima do falecido, para não incomodá-lo, faz parte do mobiliário uma TV de plasma, de muitas polegadas, onde o morto poderá rever os melhores momentos de sua própria vida, ou, se preferir, um show da Madona, ou até mesmo do Elvis, aquele que não morreu.
Com isso tudo, não há dúvidas que dona Milena "Mortícia" Romano "vai mudar o conceito de morte em SP, vai deixar o velório uma coisa fashion".
É isso aí, dona Funérea! Desejo que seus clientes morram logo. E acho que, se ao invés de distribuir "bem-velados", a senhora der uma tacinha de cicuta bem gelada aos seus convidados, sua casa de festas vai bombar!
Outra hora falo do Hamlet e do Dr. Dodói, as peças que assisti. Agora deixo vocês, morrendo de rir.
1 comment:
Legal, agora inventaram o velório desfrutável :-)
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