Pois é. A vida não parou e chegamos em outra semana, sem que eu tivesse tempo para falar de uma coisa que me escapou na segunda passada. Era a segunda do anjo, me diz o calendário (Lunedi dell'Angelo), e eu desconhecia esta gracinha de dia. Alguém aí sabia disso? Uma vez fui surpreendida com o Boxing Day, na Inglaterra. Fui passar o Natal lá sem saber que a tradição havia instituído um feriado acho que da época vitoriana. Os criados, depois de passarem o Natal trabalhando nas casas das famílias mais abastadas, recebiam esse dia de folga, ganhavam seus presentes (provavelmente de segunda-mão: os brinquedos e roupas velhas para desocupar espaço nos armários, com certeza), colocavam-nos em caixas (boxes) e saíam pelas ruas carregando-as. Provavelmente a pé, pois os trens param de circular nesse dia, todas as lojas fecham, estar na Inglaterra neste dia só é bom se você estiver a fim de fazer retiro espiritual. Eu estava em Cobham-Surrey, com um carro onde não cabia toda a minha família, sem nada para fazer, nem comida tínhamos. O que nos salvou foi uma loja de conveniência num posto de gasolina, numa auto-estrada que nos levou a nenhum lugar, pois não aguentamos por muito tempo a falta de espaço.
Este Lunedi dell'Angelo, imagino que fosse, na Itália, o dia de devolver as asinhas angelicais usadas nas procissões de Páscoa. Uma nova procissão pelas ruas, desta vez sem a ordenação e solenidade das procissões santas. Asas de todas as cores se misturando, parando para tomar um sorvete, se já houvesse sol bastante, ou um último chocolate quente antes da primavera começar a aquecer. E, por cima das asinhas, chapéus de palha, com laços e flores, estalando de novos.
Ângelo quer dizer mensageiro. Talvez seja outra a razão deste dia.Talvez os anjos do senhor, ainda estonteados com os acontecimentos do fim de semana anterior, se tenham organizado numa passeata, informando a todos os mortais que a última chance havia sido dada. Agora as coisas, se não tomassem jeito, já não seriam mais responsabilidade do andar de cima...
Devaneios. Devaneios. O trabalho se acumula e eu, apática, devaneio. Meu corpo se rebela, me sinto adoecer. Olho para a folhinha, e sei que depois de amanhã vou ter que mudar a página, mudar o mês. Não quero seguir em frente, mas o sol continua sua marcha, indiferente.
Procuro, no meio dos papéis, uma anotação que tinha feito sobre os zumbis -- descubro que esses mortos-vivos tinham um sentido utilitário: eram chamados de volta à vida para realizar tarefas que ninguém queria realizar, escravizados até após a morte. Perdi. Sobra a lembrança do que li, e a sensação de que..., enfim, acho que estou ficando gripada.
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