Mano André, amiga Adriana, e agora eu -- eles reclamaram e eu assino embaixo. As editoras não promovem nossos livrinhos: sniff, sniff.
Livro não é mercadoria, gente não é mercadoria, mas vivemos num mundo de valores trocados e truncados e parece que a gente só sabe se relacionar através do "Mercado". Já há muitos anos falava-se de "capital social", "capital intelectual", coisas assim. O mestre Graciliano escreveu uma obra-prima, um dos maiores livros de nossa literatura, revelando a "reificação" do homem. Na época a palavra era nova, o conceito também. Hoje em dia banalizou tanto, que é capaz das pessoas lerem São Bernardo e nem se comoverem. Fico imaginando um curta metragem em que um motorista, engarrafado num dos enormes congestionamentos de São Paulo, se ponha a ler o conto de Cortázar (Autopista del sur), e, num delírio, comece a agir como os personagens do conto. Em nosso very big brother, com as câmeras de vigilância em cada esquina e estacionamento, estamos vendo,-- se quisermos ver, pois a maioria tem olhos de não ver,-- uma sociedade que só vale enquanto espetáculo. O espetáculo que é vendido como vida real, como modelo, como ideal de comportamento. Mas que não vale nada, que é tão ilusório quanto um holograma. Aliás, existe uma teoria filosófica de que somos todos hologramas, que a vida se desenvolve em outro lugar do universo e o que experimentamos aqui não passa de ilusão, holografia capaz de se reproduzir. Acho que nós, escritores, nos debatemos para termos um lugar nessa projeção. Convenhamos, nada mais chato que assistir a um escritor vivendo: nossas imagens de vida se repetem -- escrevemos, escrevemos a lápis ou em computador, de pé ou sentados, com canetas ou máquinas antiquadas, com laptops ou bloquinhos de notas. Quando não estamos escrevendo, estamos lendo. Sentados, deitados, na praia... Um ou outro se enclausura num canto claustrofóbico e se deixa ficar anos a fio, escrevendo e lendo. Criamos mundos tão ilusórios quanto os hologramas que talvez sejamos. Mas nossa construção fala diretamente a algo que ainda possuímos: nosso cérebro, máquina de pensar. Não pretendemos iludir, mas des-iludir. Oferecemos a verdade que surpreendemos nas coisas, desvelamos, desmascaramos. Mesmo quando nossa obra é um castelo de cartas, ele se sustenta na lógica e os leitores podem decodificar essas construções, corrigi-las, melhorá-las. Mas esse processo não dá para ser revelado em imagem.
Ia falar de uma coisa e acabei falando em outra: mas, conserto, com um remendo. Nesse mundo "reificado", viramos mercadoria. E mercadorias existem para serem trocadas por dinheiro. Um bom livro é uma mercadoria que se comporta de uma maneira muito peculiar: a gente compra, lê e não joga fora. Empresta aos amigos, dá para um primo, recomenda para um colega. Um bom livro dura para sempre. E os deuses do mercado não sabem como lidar com um objeto que escapa às suas leis. Daí que os mercadores prefiram promover esse sub-lixo escrito nas oficinas de escrita criativa... Aliás, alguém conhece o software de roteiro que as grandes produtoras de filme de Hollywood têm? Incrível. Você vai alimentando, tipo: quantos personagens, tipo de conflito, quantas cenas de sexo, quantas de violência, e o roteiro vai saindo pronto do outro lado, e por isso a gente tem a sensação de que muitos filmes de Hollywood são iguais.
Bem, já falei demais e estou outra vez saindo do assunto.
Mais uma vez conserto, com outro remendo: leiam lá no blog do André e no da Adriana Lisboa as considerações sobre este assunto. E vejam se não é para concordar com o André, quando ele reclama: gastem cem mil dólares (ou seriam reais?) promovendo meu livro e vejam se ele não vira o primeiro da lista de mais vendidos!
Queremos entrar para o grupo dos Cem, e não ficar no grupo dos sem.
Ah, só para esclarecer: quem está nos fazendo falta é a propaganda mesmo, já que ninguém está nem aí para a literatura.
1 comment:
Querida, adorei seu texto mais recente publicado no Histórias Possíveis. Muito legal!
Beijo da Eugenia
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