Thursday, September 26, 2013

Pudor das palavras

Existem palavras que deviam andar por aí de burca, até porque não existem em estado dicionarizado, são uns seres híbridos e assustadores. Hoje topei com (perdão, perdão!) "convulsivante". Achei que a dita cuja deveria ser imediatamente "emburcada", antes que vire uso comum. Pois que coisa horrorosa que andam as nossas contemporâneas invenções vocabulares! Querem ver uma outra que poderia desfilar de burca, para ver se nos esquecíamos da distinta? "visualizar"! Já repararam que ninguém mais usa o bom e velho verbo ver? Todos querem visualizar o mapa, ou as fotos, os os novos modelos de carro. Os botões eletrônicos do telefone nos convidam a visualizar o número chamado, e por aí vai.
Não vou me estender, até porque não tenho tempo para isso, estou com muito trabalho pendente. Mas fica aqui meu protesto. Principalmente porque a palavra convulsivante que me arrepia até a raiz dos cabelos, veio inserida num poema de amor. Por favor, ouçam a voz da experiência, amores podem ser expressos em sussurros carinhosos, ou mesmo em palavras com arestas, ferinas. Amores podem ser celebrados com palavras banais, corriqueiras, mesmo. Evitem, no entanto, essas palavras hediondas, causadoras de soluços e engasgos. Principalmente no meio dos corpos convulsos, pois um deles pode sufocar e morrer. 

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