Sunday, September 01, 2013

Como era gostoso o meu poeta…

Veríssimo, hoje, nos brinda com uma divertida especulação sobre a vida em outros planetas, e de seu encontro com um poetófago. Imaginem: um ET carambolando de astro em astro à procura de "poetas" e que, na Terra, descobre um suprimento considerável destes.
"A Terra é o único planeta do universo conhecido em que as pessoas dão nome aos ventos", diz o viajante intergalático, como prova de que somos todos poetas. Em minha imaginação, já vejo o interlocutor do cronista, de olhos sonhadores e língua gulosa lambendo os bigodes.  Peraí! Será que ET tem bigode? Acho que nunca vi no cinema um assim. Geralmente eles são cabeçudos e têm alguma semelhança, maior ou menor, com algum réptil. Mas esses são os invasores incongruentes com tanta tecnologia que lhes permite chegar até a este canto esquecido do sistema solar, mas incapazes de pensar. São vírus que atacam com armas letais e destroem aqueles a quem conquistam.
O ET do Veríssimo e da minha fantasia é um gourmet. Vem à Terra para se alimentar de poetas, e sem dúvida aqui encontrará grande fartura deles. Basta olhar no Facebook que ele vai encontrar pessoas insistentemente poetando a torto e a direito, e enviando seus versos para uma lista de amigos que, por sua vez, também poetas, mandam versos de volta, adornados de fotos de todos os tipos,  fotos de beijo, de animais e vegetais, de céus nublados, de tempestades furiosas, de crianças fofinhas ou de velhos tristes.
Misturo a crônica do Veríssimo com a do Xexéo, falando sobre sonhos… Provavelmente o extraterrestre, ao lamber seus bigodes, estivesse pensando no seu primeiro poeta ingerido, com uma saudade culinária e afetiva que o impedirá, para sempre, de encontrar aquele gosto insuperável. Mas tenho a certeza de que vai passar a vida tentando encontrá-lo de novo. É capaz até de engordar uns quilinhos, experimentando mais do que sua dieta exigiria.
Finalizo lembrando de uma conversa com a namorada de um amigo. Ela se diz uma "shabra"(acho que é essa a palavra), nativa de Israel, e me explica que é um fruto típico de lá, espinhoso por fora e muito doce por dentro. Revejo os poetas que conheço, e tento imaginar o sabor de um Rimbaud, de um Castro Alves, de um Paul Célan, de uma Elizabeth Bishop. Uns mais secos, crocantes, até amargos. Outros doces, poetas de sobremesa. Uns apimentados, estimulantes. Outros gelados, de fazer doer aquele pontinho entre os olhos. Alguns são massudos e maçantes como um pedaço de aipim. E aí me lembro, essa raiz, que eu tanto aprecio, tem seus perigos. Existe uma mandioca brava, letal.
Muito cuidado, Seu ET. Há que fazer como fazem os franceses, na colheita dos cogumelos. Antes de provar seu poeta, leve-o a um farmacêutico – na falta de um especializado na toxicidade poética, procure um crítico literário. 

No comments: