Quanto vale a vida humana? Outro dia falei nos trabalhadores do edifício ao lado. Hoje acordo com mais uma reportagem sobre o jovem brasileiro morto na Austrália, suspeito de ter roubado um pacote de biscoito. E jornais, TV's e internet continuam falando das mortes – gratuitas – em Toulouse. E a imprensa daqui explora e vai continuar explorando o acidente envolvendo o jovem rico e o ciclista ferrado. E finalmente prendem o rapaz (tão bonitinho, meu Deus!) que, ainda menor, foi um dos que arrastaram o pobre menino preso pelo cinto de segurança, e que agora, aos 21 anos, tinha virado empresário e empregava outros menores no tráfico de drogas. Essas reportagens ensombreceram meu dia, e agora, de tarde, cheguei em casa tão triste, tão deprimida, pensando que não existe muito motivo de alegria em viver em tempos como os que correm. Será que pioramos? Ou temos melhorado e eu estou sendo pessimista? Ontem fui assistir, na ABL, uma palestra chamada Pensar a Humanidade. O douto professor Gianotti e seu anfitrião, o doutíssimo Marco Lucchesi, foram, sem dúvida, brilhantes. Mas não consegui acompanhar o alto voo de suas mentes privilegiadas. Tendo saído do Logos para o Ratio, e do Ratio para a Trindade, eu ia, de sobressalto em sobressalto, fazendo essas piruetas filosóficas quando, sem que eu esperasse o golpe, fui abatida pela crise da matemática. Os números, capitaneados pelo zero, tornaram impossível o pensamento tradicional! Caí no abismo, sem rede de proteção nem paraquedas! O danado do Pi destruiu o raciocínio?! Mas como é que, existindo desde a amena Grécia, só no século 19 ele provocou essa destruição? Talvez pela sua combinação com o zero? Ou teria sido a impossibilidade da unidade? Sim, Marco Lucchesi me deu a entender que não se pode pensar a unidade pois ela deixaria de ser unidade uma vez que seria o Um mais o conceito de Um. Saí da Academia e vi um dos acadêmicos, acabrunhado, sentando-se no fuleiro barzinho ao lado, com certeza tão desconcertado como eu. Pois a alta filosofia, jogada assim no colo de mortais e imortais, pode deixar a plateia fora de combate. Vi o olhar perdido no Nada que o Imortal ostentava. Um Nada muito mais ameaçador que o meu nada, pois eu, mortal, não vou precisar me preocupar com isso por toda a eternidade. Resolvi imitá-lo e fui tomar uma caipirinha, em outro bar, perto de minha casa. Hoje, em crise, penso no nada que é o valor de nossa vida. Nem a leitura me consolou. Sofrendo, desabafo aqui neste nadanonada –cujo nome não poderia ser mais apropriado – Quanto vale a vida? Vale o que não pesa.
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