Quantas perdas!
Chega um ponto na vida da gente que temos mais amigos do "outro lado" que a nosso lado. Eu, então, que comecei cedo a perder parentes e amigos, já me sinto quase lá. Ainda era menina quando comecei a frequentar o São João Batista. Meu bisavô, minha bisavó, pai, avó, mãe, avô, tio, entremeados de amigos mortos em acidentes, e das incontáveis histórias de parentes que não cheguei a conhecer, mortos de tísica, ou de amor (o famoso e popular suicídio de veneno com guaraná). Depois foram amigos mortos no 9-11, um num dos aviões, outro na Torre. Minha sensação de imortalidade foi abalada bem cedo, de repente comecei a ver a possibilidade da morte em casa episódio da minha vida. Crianças amadas, levadas depois de sofrimentos inimagináveis. Bichinhos de estimação, madrinha e padrinhos queridos, amigos novos estupidamente levados por tumores fulminantes, amigas mais velhas que se foram depois de doenças mais ou menos longas. Meu marido adorado, cuja perda me fez entender que podemos morrer em vida.
Agora lá se vai o Tabucchi, o italiano que quis ser português, por entender como ninguém o sentimento de um povo que amo sem entender muito bem.
Não quero ficar contando os que estão encantados, como diz o Guimarães Rosa. Também não quero contar os que continuam me encantando, por uma questão de superstição. Mas tenho a certeza de uma coisa: quando eu for, terei um céu povoado de pessoas maravilhosas, que me acolherão e nem vão reparar no quanto mudei. Pois mudei, mudamos todos, a cada dia. Mas serei reconhecida pelos olhos do amor que nos uniu.
Mas, lembrando meu padrinho, talvez nos vejamos todos no Inferno, destino que ele tinha certeza de que seria o seu. Grande apreciador de mulheres, bebidas e da boa vida da praia, ele brincava dizendo que só seria castigado indo para o céu, onde não conhecia ninguém. O inferno era a pasárgada deste bon vivant. Para onde for que esteja carimbado o meu bilhete, espero que seja ao lado do Guilherme pois, com ele, qualquer lugar sempre foi o paraíso.
Chega um ponto na vida da gente que temos mais amigos do "outro lado" que a nosso lado. Eu, então, que comecei cedo a perder parentes e amigos, já me sinto quase lá. Ainda era menina quando comecei a frequentar o São João Batista. Meu bisavô, minha bisavó, pai, avó, mãe, avô, tio, entremeados de amigos mortos em acidentes, e das incontáveis histórias de parentes que não cheguei a conhecer, mortos de tísica, ou de amor (o famoso e popular suicídio de veneno com guaraná). Depois foram amigos mortos no 9-11, um num dos aviões, outro na Torre. Minha sensação de imortalidade foi abalada bem cedo, de repente comecei a ver a possibilidade da morte em casa episódio da minha vida. Crianças amadas, levadas depois de sofrimentos inimagináveis. Bichinhos de estimação, madrinha e padrinhos queridos, amigos novos estupidamente levados por tumores fulminantes, amigas mais velhas que se foram depois de doenças mais ou menos longas. Meu marido adorado, cuja perda me fez entender que podemos morrer em vida.
Agora lá se vai o Tabucchi, o italiano que quis ser português, por entender como ninguém o sentimento de um povo que amo sem entender muito bem.
Não quero ficar contando os que estão encantados, como diz o Guimarães Rosa. Também não quero contar os que continuam me encantando, por uma questão de superstição. Mas tenho a certeza de uma coisa: quando eu for, terei um céu povoado de pessoas maravilhosas, que me acolherão e nem vão reparar no quanto mudei. Pois mudei, mudamos todos, a cada dia. Mas serei reconhecida pelos olhos do amor que nos uniu.
Mas, lembrando meu padrinho, talvez nos vejamos todos no Inferno, destino que ele tinha certeza de que seria o seu. Grande apreciador de mulheres, bebidas e da boa vida da praia, ele brincava dizendo que só seria castigado indo para o céu, onde não conhecia ninguém. O inferno era a pasárgada deste bon vivant. Para onde for que esteja carimbado o meu bilhete, espero que seja ao lado do Guilherme pois, com ele, qualquer lugar sempre foi o paraíso.
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