Nós, os brasileiros, não somos um povo muito afeito a mudanças. Geralmente ficamos pela cidade onde nascemos, ou naquela que elegemos. Quando morei nos EUA, descobri a "impermanência", essa mudança a cada dois anos para cidades e países distantes; a ida dos filhos para universidades no outro lado do país; a troca de residência por ocasião da aposentadoria; costumes que nos parecem, ainda hoje, um pouco estranhos. Mas cada vez mais precisamos nos adaptar. Eu mesma já mudei mais de dez vezes, mudanças nacionais e internacionais. Tenho um cartão de cliente preferencial em guarda-móveis, se é que esses cartões existem. Porque aqui as pessoas não se desfazem de seus cacarecos a cada mudança. Lá nos EUA mobiliei as três casas em que vivi com móveis comprados em Tag Sales. Geralmente acontecem no verão, as famílias em mudança abrem as portas de suas casas e vendem tudo, até as roupas! Confesso que algumas até comprei: aqueles casacos de neve que as crianças usam por duas semanas e perdem antes mesmo de terminar a estação, foi assim que agasalhei meus filhos ao chegar lá. Isso porque eles chegaram doidos para ver neve, brincar na neve, esquiar, andar de sleds, coisas que cariocas só conhecem de ouvir falar. E, temerosos, queriam todos os casacos do mundo. Logo descobriram que ali onde morávamos dava para esquiar de calça jeans, pois o exercício aquece, e os casacos e calças atrapalham os movimentos. Eu, que nunca consegui aprender a esquiar, ficava na base da montanha encarregada de segurar os casacos descartados, que as crianças tinham trazido por muita insistência minha, mãe protetora e preocupada. Com o tempo, relaxei. Cuidava apenas de recebê-los com muito chocolate quente e minha afamada sopa de cebola. E não ia mais para os lodges, ficava em casa, lendo e operando a máquina de lavar e secar, equipamento dos mais importantes em estações de esqui e em casas de praia…
Apesar de ser uma especialista em mudanças, isso ainda me desestabiliza. Ter que mudar ou ajudar a família a mudar é exaustivo física e psicologicamente falando. Um misto de esperança e temor, uma grande dose de desencanto: a cada mudança nossos móveis parecem envelhecer décadas. Um sofá que na casa X parecia novo entra num caminhão de mudança e revela toda sua idade e uso ao chegar na nova casa. Mas o que tornou essa última mudança particularmente difícil foi a sensação de retorno. Regressar a um lar que abandonamos é tão difícil como dirigir em marcha a ré. Temos que fazê-lo com cautela, para não deixar que nossas lembranças nos atropelem.
Apesar de ser uma especialista em mudanças, isso ainda me desestabiliza. Ter que mudar ou ajudar a família a mudar é exaustivo física e psicologicamente falando. Um misto de esperança e temor, uma grande dose de desencanto: a cada mudança nossos móveis parecem envelhecer décadas. Um sofá que na casa X parecia novo entra num caminhão de mudança e revela toda sua idade e uso ao chegar na nova casa. Mas o que tornou essa última mudança particularmente difícil foi a sensação de retorno. Regressar a um lar que abandonamos é tão difícil como dirigir em marcha a ré. Temos que fazê-lo com cautela, para não deixar que nossas lembranças nos atropelem.
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