Eis que me vejo fascinada por uma bela moeda de ouro de outros tempos! Isso graças ao meu querido amigo Antônio Carlos Secchin, que entrou para a Academia Carioca de Letras, ficando já não sei quantas vezes acadêmico. Recebido com um belo discurso, em versos, pela extraordinariamente bela Stella Leonardos, ela fez referência à moeda preciosa de seu nome. E eu, de repente curiosa, fui procurar uma imagem que me revelasse seu valor estético.
Quando pequena fui a feliz proprietária de alguns volumes de um velho Larousse. Num dos volumes, as letras me permitiam verificar "costumes", e eu via os vestidos medievais de nobres e plebeus, passava pelos exageros barrocos, chegava às amplas saias do romantismo, aos rendilhados espartilhados da Belle Époque, aos cortes masculinizados e sóbrios do pós guerra. Era ali que buscava inspiração para vestir minhas bonecas de papel, uma das minhas brincadeiras favoritas. Em outro volume, podia verificar as moedas, e me espantava com sua variedade. Materiais diversos, tamanhos diferentes, praticamente todas eram redondas (quase, nada de muita precisão nas moedas antigas) Me abismava olhando para os pequenos círculos que deviam ser depositados sobre os olhos dos mortos, ou sob suas línguas). Nem mesmo no outro mundo a gente podia sobreviver sem um dinheirinho! O que faria eu, criança, que não possuía um tostão de meu? Me tranquilizava, dizendo que criança não morria. E caso eu morresse, como a pobre vendedora de fósforos da história, talvez algum escritor tivesse piedade de mim e colocasse uma moedinha entre meus dedos enregelados.
Gostava de ver seus nomes engraçados: Dracmas, Patacas, Pesos, Escudos, Florins, Ducados e Sequins. E minhas preferências recaíam sobre as moedas de ouro, principalmente as brilhosas, polidas e meio gastas pelo manuseio.
De uma peça que vi bem jovem, lá no Teatro Maison de France, e cujo nome e história sequer me lembro, mantenho entesourada a imagem do Paulo Gracindo vivendo o papel de um judeu, apaixonado por suas moedas, que ele acariciava e guardava com volúpia.. Moedas cenográficas, sem dúvida, mas brilhantes, atraentes, aparentemente mais valiosas do que nosso dinheiro, que tinha virado tirinhas de papel sujo, carregando mensagens de amor, algumas, ou orações pedindo a multiplicação das notas, outras.
Nas fantasias de cigana, comuns durante a minha infância, usavam-se colares cheios de moedas, que tilintavam sobre as saias coloridas e emolduravam os rostinhos pintados, presas nos lenços de cabeça. Infelizmente, nunca me fantasiei de cigana. Mas cheguei a ganhar algumas moedinhas de chocolate. Mais uma vez, minhas preferidas eram as douradas, embora o chocolate que as recheavam fossem ruim em qualquer versão. Mas era uma alegria ganhá-las, embora, geralmente, eu as guardasse avaramente, segurando-as na minha mãozinha quente de criança até que elas desmanchassem com o calor e se desfizessem, para minha tristeza.
Uma vez ganhei de presente uma libra de ouro. De verdade, linda e brilhante, minha avó transformou-a num pingente e colocou-a em um cordão de ouro que nunca cheguei a usar. Acho que foi roubado, tal como a pulseira com quinze figas de materiais diferentes que ia ganhando, a cada aniversário, de meu avô. Essa cheguei a usar, e muito lamento a perda. Cada uma das figas tinha uma história, e era um sinal de proteção. Bem que eu gostaria de ter quem me protegesse, agora…
Foi assim que mergulhei no mundo da numismática, no Google. E lá estava a foto, frente e verso, do lindo sequim de ouro. O doge Antônio Venier ajoelhado frente a São Marco, numa imagem cunhada nos idos de 1382. Como traziam a imagem do doge, também eram chamadas de ducados. E tinham o mesmo valor das moedas florentinas, pois o valor era estabelecido pelo peso e tamanho. Diferenças só nas imagens de umas e de outras e no prestígio, pois em certo momento os banqueiros florentinos emprestaram aos florins de sua cidade um prestígio que se revelou nas cópias feitas pelo mundo afora. Até no Brasil foram cunhados (creio que os devemos aos holandeses).
Mas vejam se essas belas moedas não merecem minha homenagem, mesclada aos parabéns que desejo a meu amigo e poeta. Confiram as imagens do Zequino e do Florim que pesquei no mar virtual que nos envolve. E que Antônio receba o que é de Antônio.
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