Passei a manhã tentando me entender com as fotos. Pelo menos, consegui retirá-las de dentro da máquina e passá-las para o computador. Acho que vou ter de ligar para Celina que, em sua gentileza, se propõe a me ajudar. Agradeço às mensagens dos amigos, que voltam e me alegram com suas mensagens de boas-vindas.
São muitas as fotos, umas trezentas e cinquenta, como o poema de Mário
Eu sou trezentos, eu sou trezentos e cinquenta... Só que eu não estou em quase nenhuma das fotos. Mas apareço, aqui e ali, quando minha companheira de viagem acertava fazer a misteriosa câmara funcionar. Como vocês podem ver, o equipamento é complicado, não sou assim tão ruim quanto minhas reclamações me fazem parecer. Coisas de filhos, que acham que suas mães têm a mesma habilidade que eles com esses novos equipamentos!
A maquininha não impediu minha fruição. Nem mesmo a chuva. Estive olhando algumas das fotos que tirei de dentro do ônibus em movimento e ficaram parecendo uns quadros impressionistas. Não revelam os lugares, mas demonstram bem o clima, acho que até os arrepios de frio que nos tiravam a vontade de saltar e visitar as inúmeras belezas que víamos. Isso até ajudou a não nos revoltarmos contra o regime cruel da excursão, que nos mostrava as coisas de longe, sem se deter. Sossegamos, nos encolhemos, friorentos, e olhamos a cidade das pontes e dos recantos românticos, com olhos próximos da sensibilidade simbolista.
Mas andamos para lá e para cá, a pé e de metrô, seguindo mapinhas turísticos e atravessando tantas pontes quanto nossa fantasia e disponibilidade permitiu. Ousamos ônibus que nos levaram para longe dos caminhos usuais. Retornamos de metrô, sempre por ali por perto da ponte Carlos, e dos recantos sagrados onde encostávamos as mãos suplicando graças a um santo de língua cortada e guardada em belo relicário. Vestidos como turístas friorentos jantamos num dos restaurantes mais elegantes de Praga. Vestidos como príncipes, comemos em restaurante de segunda. Carregados de embrulhos, assistimos a uma ópera -- Don Giovanni -- montada com cenários antigos, lindos, num teatro tão bonito que nos deixou felizes só por estar ali. Assistimos o bailado dos apóstolos, desfilando no relógio astronômico, escondidos em sua janelinha, enquanto a morte se requebrava, avisando que está sempre presente, a cada hora do dia. Servimos de testemunhas a diversos casamentos: Como as pessoas se casam! Era um entra e sai contínuo, uma corrente humana que se metamorfoseava em noivas ricas e pobres, elegantes e vulgares, populares ou não. O casal que mais me comoveu foi o que compareceu tão solitário para o casamento que não puderam ter uma foto dos dois juntos. Um tirou a foto do outro, e aquilo fez sangrar meu coração. Quis me oferecer para ajudar, mas, na multidão, não consegui chegar a tempo de fazer minha mímica, pois não teria conseguido dizer nada em tcheco. Mas fiquei assombrada por aqueles dois, tão sozinhos no meio da multidão, esperando que eles se acompanhem para sempre, que nunca mais se sintam tão sós. Tomamos café, escutamos mais música, pelas ruas, e depois, lá fomos nós para o ônibus, que nos levou para a Alemanha, onde, finalmente, reencontramos o sol.
1 comment:
Lucia,
bem vinda depois de seu périplo eslavo-germano-magiar. Mademoiselle Chanel dizia que toda mulher, ao menos uma vez na vida, deverei experimentar o arrebatamento do sangue eslavo.
Amei a referência ao Don Giovanni, uma das minhas favoritas: Don Giovanni, a cenar veno, m´invitasti, e aquela imensa estátua entrando no palco, as cordas da orquestra navegando entre altos e baixos,... não é o caminho do inferno, mas do Paraíso
Bacci, auguri
Eugenia
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