Será que alguém ainda quer saber de Flip? Ou de Clip? Hoje, o artigo do Xexéo me fez lembrar do engano do Veríssimo. Mas tento me lembrar do que será que sobrou assim de mais substancial das conferências que assisti, e penso que, talvez, o melhor tenha acontecido nas programações paralelas. Ou nos restaurantes, que não se limitaram ao fabuloso Banana da Terra. Teve o Punto Divino, um italiano nota dez. Teve barzinhos modestos de comidinha caseira gostosa (e caríssima) e teve a barraquinha de pastel (pasteis de 30 cm!) e as barraquinhas de doce, tentadoras. Teve tira gostos imperdíveis. Teve a simpatia do espaço Bravo, na pousada do Sandi, com cafezinho e biscoitos maravilhosos. Muita cachaça, rios de cachaça e de batidinhas, sem problemas, porque ali ninguém dirige, mesmo. Parati não tem carros, agora tem umas charretes, mas ainda são poucas. As bicicletas são para os idealistas, que acham que conseguem se desviar das pedras absolutamente desiguais do calçamento. Em toda a cidade não há uma pedra igual a outra. É espantoso! Parati é para a gente andar a pé, devagar, olhando para o chão. É para cumprimentar os amigos de longa data que a gente reencontra na ponte, ou tentando encontrar lugar no bar apinhado. É para entabular conversa na fila, trocar opiniões sobre livros e ficar com a sensação de que essas pessoas são as mais simpáticas do mundo. É para comer um pão de mel do Café Pingado, sem acreditar que algo tão bom seja um simples pão de mel. É para ganhar uma fruta de presente, e comê-la com gosto, ali mesmo na rua, matando fome e sede ao mesmo tempo. É para escutar os poetas e os poetas chatos. É para folhear livros sem fim, com vontade de comprar todos, e comprar mais livros do que se pode, é para visitar as galerias de arte, para admirar o artesanato, para descobrir pessoas que são amigas de pássaros, que vêm visitá-las todos os dias.
Ah, tem os autores. A gente gosta de vê-los, gosta de ouvi-los, se espanta com alguns, se surpreende com outros, mas logo a gente esquece, pois, deles, o que preferimos são os livros, são as histórias que nos contam e que se tornam nossas histórias.
Eu adoro Parati, e aquele mar que se mantém discretamente escondido no final das ruas estreitas. Adoro minhas lembranças de Mamanguá, dos golfinhos brincalhões, do cheiro do mato nos acompanhando nos banhos de mar. Atravessar a ponte sobre aquele rio (Perequetê- Açu?, já não me lembro do nome...) e ver o céu refletido nas águas, exibindo nuvens gorduchas como bebês alegres. E adoro Parati cheia desse povo dos livros, dessa multidão de pessoas que, quando não gostam dos livros, vivem deles e por isso fingem que gostam. E é bom escutar os retalhos de conversa, os pedacinhos de história, os fiapos de assuntos. Chega de Flip, porém. Já é hora de pensar em meu novo caminho. La vou eu para Budapeste, e Praga, e Viena, e Berlim, e Roma! Meus sonhos já embarcaram, só eu que continuo tentando terminar trabalhos e atar as pontas das coisas por fazer.
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