Estou fechando as malas, já quase a caminho. Vou.
Desta vez não levo computador nem outras muletas contra a solidão. Vou acreditando que conseguirei me divertir, distrair, e que não terei momentos de reflexão, quando busco o consolo das palavras. Vou. Desdobro as asas, receosa. Há um mundo para o qual não me preparei, esperando por mim com línguas ásperas e paisagens desconhecidas. Vou. Como escudo, apenas os livros, poucos. Poucas páginas. Uma caneta. Um caderno pequeno. Tudo no diminutivo, assim como me sinto: pequena, pouca, parca.
No entanto, me garantem, o Danúbio é mais azul em Budapeste. As pontes dali nos propiciam encontros inesperados, já me avisaram Cortázar e Borges. Quem caminhará ao meu encontro numa dessas pontes míticas? Meu passado? Meu duplo? A morte?
Imagino a morte em Praga: -- medieval, solene e lenta, ela medirá minha mão. Ansiosa, tentarei enlaçar seus dedos -- teria chegado a hora? Numa viagem tão apressada, o ônibus provavelmente já estará à minha espera, para me transportar, numa valsa, até Viena. E, depois, Berlim e o Spree, com suas barcas. Barcas novas. Democráticas como a do Auto: À barca, à barca, houlá, que temos gentil maré!...
Preciso dormir, um pouco que seja. Saio de casa de madrugada, ainda escuro. Meu coração, encolhido de frio, se fingirá de morto. Mas irei. Olhos entreabertos. Sorriso sempre a postos. Um cansaço...Dou um passo. Mais outro. O caminho se delineia por entre as brumas. Ainda há muito para caminhar.
1 comment:
Boa viagem, não sonhe encontrar em Budapeste o seu passado nem mesmo a morte, mas seu presente desejando ser vivido e aproveitado. Ah!, em uma daquelas pontes me encontrará em pensamento, será 19 de Julho.
Abraço, divirta-se e aproveite cada minuto de sua viagem.
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