Wednesday, April 18, 2007

solidão, solitude

Como é difícil administrar a solidão. Quando tomamos consciência de que somos sós, que por mais que a vida nos ofereça companheiros, nós só podemos contar com nós mesmos, somos tomados por uma angústia que volta e meia nos submerge.
Estou, com meu querido grupinho, lendo a Odisséia. Chegamos até a Rapsódia VI. Odisseu sai da ilha de Calipso, esperançoso. Ele já não tem mais nenhum dos companheiros do início da viagem. Está só, numa jangada, mas persiste. Ao avistar terra, vê -se, de novo, mercê das intempéries. Sua jangada se desfaz e ele está outra vez náufrago, desvalido.
Qual a importância dessa viagem de Ulisses? O que faz dessa obra um marco de tanta importância que os séculos passam e ela continua viva? Como nos relacionamos com essa viagem? A impressão que tenho é que os autores estão quase sempre tentando responder às mesmas perguntas, resolver as mesmas inquietações. Muitas são as obras que poderíamos agrupar dialógicamente em torno da Odisséia. A mais óbvia é Ulisses, de Joyce. Mas são numerosos os exemplos, mais ou menos próximos do modelo. Há obras que são matrizes, estão sempre dando filhotes, e, a cada nova leitura, a matriz se nutre e se amplia.
Odisséia - A divina comédia - Fausto, quantas e quantas vezes essas obras não foram atualizadas por novas tramas plenas de originalidade, ao mesmo tempo que imbricadas profundamente nos veios nutrientes desses textos placentários?
O mais triste é a confirmação de nossa solidão. Estamos sós. Nossa jangada é frágil, construída a pressa; nossa bagagem se perde, tragada pelas ondas; nossa direção oscila à nossa revelia, impelida pelos ventos. É mais fácil descer aos infernos que chegar à Itaca, nosso destino, de onde nos arrancaram à nossa revelia.
Hoje estou náufraga. O mar amargo escorre pelos meus olhos e eu sossobro. Para voltar a ser gente, preciso de uma platéia, que escute minhas histórias. Onde encontrá-la?

3 comments:

Wagner Marques said...

O que estraga nossa solidão é a chatice de sempre estarmos acompanhados de nós mesmos.

Anonymous said...

Você já encontrou sua plateia, pena que ela esta logo aí, atras de sua telinha aguardando seu próximo texto.

Unknown said...

Querida, volta e meia eu retorno à Odisséia. A do Joyce tive de começar a ler várias vezes: eu nunca chegava à página 50. Filha de meu pai, eu não poderia largar o livro antes de ler até lá. Seria como uma traição. E eu dei a chance para o Joyce e até gostei, mas não sei se leria de novo: há muitos livros que ainda quero ler nesta minha vida. Entende-se a sua solidão quando se sabe da sua perda. Mas, como disse Amauri, estamos aqui esperando. Beijocas, T.T.