Conheci um filósofo.
Não foi lendo um livro ou um artigo. Conheci, de apertar a mão e dar beijinho, como se faz aqui no Rio. Esse aqui é o fulano (não entendi bem o nome, e fiquei com vergonha de perguntar). Olhei para ele e o que me chamou a atenção foi o braço todo tatuado e a pele vermelha de tanto sol. Forte, não muito alto, com um saudável apetite por aipim frito e chope, ele tinha cara de tudo, menos de filósofo. Mas qual é a cara de um filósofo?
Não sou muito chegada à Filosofia. Já li uma ou outra coisa, em péssimas e pomposas traduções, que me desestimularam. Um pouco de Platão, eu li. Estudei um pouco dos gregos, e também um pouco de Nietzsche e de Spinoza, um Schopenhauer de segunda mão, uma pitadinha de outros cujos nomes já nem sei mais soletrar. Outros, mais amenos, ou com melhores traduções, até me divertiram: Erasmo e Thomas Moore, por exemplo. Fiquei com a idéia de que os filósofos eram figuras excêntricas, com roupas, modos e hábitos peculiares. Por isso me admirei tanto com esse filósofo mais novo do que eu, vendendo saúde, com uma aparência que podia ser a de qualquer vendedor de loja de material de construção, discutindo detalhes de seu próximo casamento.
Onde a caspa? Onde os óculos de garrafa? Onde os livros e o mau-humor?
Só flores tatuadas no braço, cabelos ainda úmidos do banho recém-tomado, uma fome de pós-praia e um grande interesse pelos diferentes tipos de papéis usados em convites de casamento. Mora na filosofia?
1 comment:
Querida, eu nunca vi nenhum filósofo que casasse com essa sua descrição, aliás bem revolucionária, já que estamos inclinados a perpetuar o estereótipo! O que não ficou claro foi se você entabulou alguma conversação filosófica. Resumindo:a vida nos surpreende quase sempre e não adianta olhar dos lados porque não há rota segura. Beijocas, T.T.
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