Já estamos no final de abril... Abril, o mais cruel dos meses, como disse o poeta. Poetas gostam de classificar. Classificam meses, pessoas, flores e cores. Os leitores, encantados com os epítetos, vão repetindo para sempre as frases melodiosas, sem se perguntar por quê. Outro dia, recebi uma ligação de uma amiga e xará. Indo viajar, ela se deparou com uma paisagem de por-do-sol, onde nuvens róseas se alongavam perto do horizonte. Dias antes, lendo a Odisséia, nós havíamos nos deparado com a Aurora de dedos cor-de-rosa, e eu lhes falei da metáfora da deusa que, ao amanhecer, vem, com seus dedos rosados, levantar o manto que a noite estende sobre o mundo. Todo mundo adorou, lembrou já ter visto nuvens assim. Minha amiga, quando as viu no por-do-sol, me ligou, gentil, como se eu tivesse sido a autora da maravilha que ela estava vendo. Fiquei pensando que as belezas não se concentram apenas nos momentos inaugurais -- os finais também podem ser belos, apesar de sua inevitável melancolia. Não contei para as minhas alunas a parte triste da história de Aurora: ela se apaixonou por um mortal chamado Trítono e, contra todos os deuses, deu a ele o dom da imortalidade e casou-se com ele. Só que esqueceu que precisava dar também o dom da eterna juventude, e é assim que a bela deusa inaugural se encontra casada, para sempre, com um velhinho decrépito, com todas as mazelas da velhice... Ah, os gregos! Tão poéticos e tão sarcásticos. Tudo para eles tinha um outro lado, um castigo pela desmedida... Poesia e pés no chão!
Vamos então olhar a passagem do tempo e aproveitar o que temos agora. Abril pode ter sido o mais cruel dos meses para um poeta mas estes dois últimos dias de abril ainda estão desabrochando, são o nosso presente. Não permitam que o tempo passe desapercebidamente. Quantas vezes nos assustamos, dizendo: Mas já é maio? O que aconteceu com o verão? Já é Natal? Mas ainda ontem estávamos no dia das crianças... Ano novo, de novo?
O tempo passa, sim. E nós passamos com ele, mas nada nos impede de olhar as nuvens, e as flores, e as estrelas, enquanto passamos.
1 comment:
Amei! Ano que vem vou reparar mais no abril!!! Beijocas, T.T.(aqui para nós, essa coisa de imortalidade é meio cansativa.
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