Sunday, December 24, 2006

Feliz Natal?

Houve um tempo em que eu gostava do Natal. Era uma festa de reunião de família, e eu adorava reunir-me à família, minhas raízes. Era minha chance de estar com minha mãe, sempre tão distante, de ter alguém com quem brincar, de comer coisas gostosas que só apareciam na mesa em dias especiais.
Depois o Natal foi ficando cada vez mais difícil. A gente vai perdendo uns e outros até que chega um dia e se perde a si mesma. Vou para o Natal me sentindo vazia: uma casca incapaz de se alegrar, e tão frágil que qualquer coisa pode destruir esta falsa imagem de mim. Não digo me destruir, pois já estou destruída, oca. Estou há mais de um ano, juntando pedaços para recuperar algo que possa chamar de eu. Vou ligando esses pedaços com a argamassa do carinho dos amigos. Vocês, se porventura lerem este blog, saibam que têm um papel fundamental para a construção desta Lúcia que vocês olham admirados, dizendo: como você está bem; você está linda; você tem muita força e está reagindo muito bem... Se eu fosse crente, saberia remeter a todos para o capítulo e o versículo em que se fala de sepulcros caiados... Sou um túmulo, carrego em mim um amor morto. A Lúcia que vocês olham e admiram é a imagem que as lembranças que vocês têm de mim projetam sobre essa ausência.
Mas, em algum lugar, o Natal continua maravilhoso. Talvez nos beijos apaixonados de André e Camila, talvez nas praias baianas onde se divertem Guilherme, Rita, Beatriz e o próximo Guilherme, talvez nos sonhos e equívocos do Ivan, talvez em Dallas, no futuro de Barbara, Michael, Gabriela e quem mais vier, talvez na casa e no coração da Paula e do Leonardo, do Fernando e do Marcello, acolhendo a todos os que chegam, convidados ou não. Vejo o rosto dos amigos, sorridentes e iluminados, Helena, a estrela que vai iluminar a noite de Natal de sua irmã, o sorriso e o brilho do olhar de Renée, generosa em suas emoções, escuto a conversa bilíngue da Marta e do Dennis, leio as mensagens carinhosas dos amigos próximos e distantes, fiéis e nem tanto, e sei que há uma promessa de beleza nesta noite, em que tantos corações tentarão caprichar nas batidas, para criar uma harmonia universal.
Feliz Natal, para todos os felizes. Feliz Natal, para os que tentam, Feliz Natal, para os observadores, para os excluídos, para os alheios, para os que não estão nem aí, para quem nunca soube o que é felicidade, para os raivosos, para os indiferentes, para todos, enfim. Que a data seja comemorada em paz, em dignidade, em sossego, pelos crentes e os descrentes.

2 comments:

André de Leones said...

É, mana, o Natal aqui foi bem gostoso mesmo...

Beijão.
Dré.

Unknown said...

Belíssimo!Se eu escrever mais agora, perco a chance da única atitude possível: contemplar e me emocionar! Beijocas, T.T.(dia 19 de julho de 2010)