Descartes
Penso
logo não posso existir
como me querem
submissa
como as feras
Penso
e com isso surgem os problemas
O natural, a natureza
não correspondem
aos anseios
e receios
Penso
Ato tão pequeno
que ninguém explica
Deus e a Filosofia
debatendo entre si
minha agonia
Penso
E se o corpo é fêmea,
o que é a mente?
Talvez ilusão
mito da serpente
Pura sedução
Penso
Se isso é normal
outra é a falha
Ou talvez a culpa
seja de Descartes
por acrescentar
Existo
Penso
E não existo
Somente assim
Posso me explicar
Nesse momento
Não sou
Penso
Não existo
Penso
Logo, me crio
Prometi, e aqui estou eu cumprindo, cartesianamente, o prometido. Este meu poema é de um livro inédito, chamado A contramão da palavra. Antes de escrever contos, eu costumava escrever poesia. Mas escrevia, volta e meia, um ou outro conto. Agora minha produção se inverteu. Passei a escrever preferencialmente contos, e ocasionalmente poesia. O que é que nos leva a uma ou outra forma de expressão? Porque preferimos a concisão e a elipse numa determinada fase da vida? Por que é que certos assuntos parecem mais poderosos quando escrevemos de forma mais simbólica? Porque alguns autores elegem uma única forma de expressão e nunca se aventuram fora dela? Por exemplo, nunca ouvi falar num trecho em prosa escrito por João Cabral de Melo Neto. Mas, conhecendo os poemas perfeitos dele, enxutos, concisos, numa elegância de equilibrista, como não entender essa sua preferência?
Chega de perguntas sem resposta. No fim de semana continuo.
1 comment:
Gostei muito dos seus comentários. Eu, até hoje, quando escrevo poesia escrevo sob profunda emoção. Já na prosa, porque estou sempre com os personagens, minha emoção fica mais controlada, fora em alguns momentos, que escrevo rápida que nem um vento,com os dedos tentando acompanhar o teclado, que parece até ter vida própria. Grande abraço, aqui do presente, dia 17 de julho de 2010!!!
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