Mandei um texto por e-mail para alguns amigos. Ia ser uma carta, mas percebi que estava meio estilo crônica, e resolvi enviar para um monte de amigos. Alguns me escreveram de volta, dizendo que eu devia colocar no blog. Como tenho sido descuidada com o nadanonada, e ando sem tempo para meus prazeres solitários (ler e escrever, gente maldosa) vou reciclar o texto aqui. Espero que todos gostem.
Antes, porém, uma notícia: saiu um conto meu na Revista Continente. É uma revista lá de Pernambuco, muito bem editada, excelente apresentação, que muito me honra ao publicar meu conto. Está na página 34, com uma ilustração, muito bem feita, mas cujo autor, ou autora, desconheço. Acho sempre muita graça ao ver a interpretação dos outros quanto ao que a gente escreve: quem ilustrou o conto colocou a predadora como uma raposa, e sua vítima um cordeiro, com jeito assustado. Nada disso! A raposa é furtiva, escolhe caças pequenas e age mais pela esperteza. Uma amiga imagina a predadora como uma loba, mas também discordo. Lobas caçam em grupo, e essa predadora é exclusivista. Uma onça, uma leoa, ou, vencendo as conotações de filmes e músicas, até mesmo uma pantera ou uma tigresa. E a vítima não tem nada de cordeiro medroso. É tão selvagem e disposto a matar quanto a predadora. Só que ela toma a iniciativa... Mas, como já constatei, o conto só é nosso enquanto ninguém mais o lê. Cada leitor assina a co-autoria, pois a decodificação é dele e suas sinapses serão, necessariamente, diferentes das de quem escreveu. Aceito a raposa e o cordeiro, portanto, porque são manifestações de uma interpretacão possível, quem sabe de um machismo destronado que se vê vitimizado e inocente?
Curiosos? Vocês podem ler o conto na Continente de dezembro, que está à venda na Livraria Letras e Expressões. Corram, antes que acabe!
Termino, então, com o canto das cigarras, que hoje estão caladas, dando a vez para os bentevis.
Estou escrevendo com um fundo musical de cigarras enlouquecidas de sol e azul. Um dia lindo, como há muito já não se via no Rio, mas que exige ar condicionado, vestidos de alcinha, sorvetes, chope e água de coco. Ah, o verão... Estação mais complicada, aqui no Brasil! Começa com a correria das compras de Natal, das festas de fim de ano, com comida demais, para nos cansar a todos e nos dar aquela vontade doida de largar tudo e ir para a praia, mergulhar no azul, almoçar só uma saladinha ainda vestindo a roupa de banho e sentindo na pele o gostinho do sal, que tempera amores efêmeros ou eternos. Gosto do verão, mas como observadora. Me posto em alguma janela e olho toda a efervescência, escuto os pregões, me embalo nas músicas. Mas nunca aprendi a dançá-las, nem comprei as ofertas, nem me embriaguei com o gás. E, no entanto, amo esses dias-balões, que se inflam com o canto das cigarras e vão minguando sem que nos apercebamos bem quando é que terminam.
Solto meu canto (como o dos insetos, intenso e breve), e mando meu bom-dia a todos, minhas saudades e meu carinho.
1 comment:
Quando a cigarra canta (aquilo é mesmo um cantar, ou um mega zumbido?)eu me lembro da minha infância: se havia o canto no outro dia poderíamos brincar bastante ao ar livre e nos perder nos bosques da vizinhança. Cigarra era o mesmo que grande possibilidade de um grande dia de verão! Grande abraço, Tereza.
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