Friday, December 15, 2006

Descartes e A contramão da palavra

Descartes

Penso

logo não posso existir

como me querem

submissa

como as feras

Penso

e com isso surgem os problemas

O natural, a natureza

não correspondem

aos anseios

e receios

Penso

Ato tão pequeno

que ninguém explica

Deus e a Filosofia

debatendo entre si

minha agonia

Penso

E se o corpo é fêmea,

o que é a mente?

Talvez ilusão

mito da serpente

Pura sedução

Penso

Se isso é normal

outra é a falha

Ou talvez a culpa

seja de Descartes

por acrescentar

Existo

Penso

E não existo

Somente assim

Posso me explicar

Nesse momento

Não sou

Penso

Não existo

Penso

Logo, me crio

Prometi, e aqui estou eu cumprindo, cartesianamente, o prometido. Este meu poema é de um livro inédito, chamado A contramão da palavra. Antes de escrever contos, eu costumava escrever poesia. Mas escrevia, volta e meia, um ou outro conto. Agora minha produção se inverteu. Passei a escrever preferencialmente contos, e ocasionalmente poesia. O que é que nos leva a uma ou outra forma de expressão? Porque preferimos a concisão e a elipse numa determinada fase da vida? Por que é que certos assuntos parecem mais poderosos quando escrevemos de forma mais simbólica? Porque alguns autores elegem uma única forma de expressão e nunca se aventuram fora dela? Por exemplo, nunca ouvi falar num trecho em prosa escrito por João Cabral de Melo Neto. Mas, conhecendo os poemas perfeitos dele, enxutos, concisos, numa elegância de equilibrista, como não entender essa sua preferência?
Chega de perguntas sem resposta. No fim de semana continuo.

1 comment:

Unknown said...

Gostei muito dos seus comentários. Eu, até hoje, quando escrevo poesia escrevo sob profunda emoção. Já na prosa, porque estou sempre com os personagens, minha emoção fica mais controlada, fora em alguns momentos, que escrevo rápida que nem um vento,com os dedos tentando acompanhar o teclado, que parece até ter vida própria. Grande abraço, aqui do presente, dia 17 de julho de 2010!!!